José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.
O lugar da gente na cidade
A posição mais conformista é acreditar que a cidade é assim como é e pronto. Não é. Pode não ser.
Há algum tempo no mundo todo vêm surgindo medidas, ora isoladas, ora um pouco mais estruturadas, aqui e ali, cada cidade por si, reagindo contra a aceitação do que está posto.
Jan Gehl, arquiteto com diretriz totalmente voltada para as pessoas, atuou em Copenhague tomando lugar dos carros para a bicicleta, e em outras metrópoles, tentando devolvê-las para o usufruto do cidadão.
O Highline em Nova York permitiu um uso fantástico de lazer, contemplação e prazer em região degradada e que estava em vias de demolição.
O prefeito atual, Michael Bloomberg, criou pequenas praças em blocos de quarteirão para que a população local pudesse respirar e curtir.
No meio da Times Square, mesmo diante da resistência inicial de vários comerciantes, a secretária Janet Sadik-Khan, colocou bancos e cadeiras no meio da rua. O movimento do comércio aumentou, além de haver um lugar para descanso e fruição por parte dos pedestres.
Nada tem um roteiro único e receita 100% certa. Mudar a cidade urbanizada é um desafio que sempre vai gerar problemas. Temos que enfrentá-lo. Decidir perder algo para ganhar outra coisa mais importante. É assim que a cidade muda. É assim que se faz uma opção ideológica pela cidade que se quer.
Recentemente, em São Francisco, 2010, surgiram os "parklets". Ação do departamento de planejamento e design da cidade. É a conversão de um espaço de estacionamento de automóvel em miniparque recreativo. O objetivo é aumentar o espaço amigável deixando os locais mais humanos.
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A ideia é transformar vagas de estacionamentos, triângulos isolados entre o trânsito ou áreas com muito asfalto, em locais onde se possa sentar, curtir a paisagem, descansar, "respirar melhor".
Lá, os "parklets" têm duração variável: algumas horas, dias e até estações inteiras de primavera e verão. E poderão ser permanentes.
Em Los Angeles, a prefeitura concluiu que os bairros mais pobres e densos possuem pouco espaço de recreação. Descobriram a pólvora. Mas, antes tarde do que nunca.
O Estado da Califórnia lançou um manual sobre como e onde construir os "parklets". Lá, os cidadãos podem tomar a iniciativa.
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Em São Paulo, há 20 anos, uma pesquisa concluiu que o maior desejo das donas de casa de periferia não era nenhuma obra sofisticada: bastava uma pequena praça para os filhos brincarem. Tal a asfixia que sentem, espremidos em apartamentos e casas com poucos cômodos.
Não custa colocar uma pista para caminhada, uma quadra poliesportiva simples e mesas para dominó e cartas, podendo reunir público de todas as idades.
Felizmente, não ficamos assistindo à iniciativa dos "parklets", os miniparques. O Instituto de Mobilidade Verde, em parceria com o Design Weekend, está prevendo para entre 15 e 18 de agosto, próxima semana, os dois primeiros em São Paulo. Um na rua Amauri, Itaim, e outro na rua Maria Antônia, Higienópolis.
Sem embargo desses, precisamos deles na periferia, onde a falta de espaço de lazer, como já vimos, é dramática há anos.
Há uma promessa de mais 20 em outubro, ainda não definidos e que farão parte da Bienal de Arquitetura.
Tomara que parte seja na periferia.
Mais do que um começo, é um exemplo do lugar da gente nas ruas da cidade. Curtindo a vida. Bastante tempo.
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