Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Respeitem os uruguaios
O palco será o velho Estádio Centenário, 86 anos.
Se conheço os uruguaios, jamais será chamado de Arena Centenário, nem quando fizer 200.
Ao nele entrar você sente o cheiro de bola de capotão, dos tempos em que as chuteiras eram chamadas de chancas.
Sede da final da primeira Copa do Mundo, em 1930, vencida, é claro, pelo Uruguai.
Porque o Uruguai não tem cara de quem organiza uma Copa do Mundo para perdê-la.
Aliás, dos donos de Copas, só Uruguai, Inglaterra e a Argentina não sabem o que é perdê-la em casa.
Há quem saiba duas vezes, como o Brasil, e quem saiba pelo menos uma, como a Itália, a França e a Alemanha.
Voltemos ao jogo de hoje, Uruguai x Brasil, às 20h.
Eles sem Luisito Suárez, nós sem Gabriel Jesus.
Jogo duro, sem favorito, risco grande de acabar com a invencibilidade de Tite, o que, se acontecer, estará longe de ser o fim do mundo.
Como escreveu Ugo Giorgetti em coluna inesquecível para o "Estado de S.Paulo", em 2003, depois do 3 a 3 entre as duas seleções, quando o Brasil fez 2 a 0 no primeiro tempo, levou a virada e só empatou no fim, em Curitiba, pelas eliminatórias de 2006, "é difícil enfrentar essa gente".
No ano passado, no Recife, também o time de Dunga saiu na frente por 2 a 0 e cedeu o empate, o 20º de um confronto que tem 34 vitórias brasileiras e 20 uruguaias, mas uma delas, a do Maracanazo, na final da Copa de 1950, que vale por 20!
A frase no título da coluna, do brilhante cineasta e colunista Ugo Giorgetti, você já leu por aqui uma vez.
Porque na Copa das Confederações, em 2013, na antevéspera da semifinal entre Brasil x Uruguai, no Mineirão, reproduzi aqui o texto de Giorgetti com introdução e as devidas aspas.
De madrugada, ao acessar a edição digital desta Folha, vi que as retiraram, o que dava a infamante impressão de plágio. Estressei completamente e não consegui dormir.
Almocei e quase jantei com Tostão naquele dia.
Ele me achou muito cansado pela manhã e à noite, com Sérgio Rangel, que segue conosco e suas ótimas reportagens, além de com Martín Fernandez, outro extraordinário repórter, hoje no Globoesporte.com, deixei cair a faca ao passar manteiga no pão.
Foi o bastante para o doutor Eduardo Gonçalves, levantar e, sem me deixar protestar, ordenar: "Vamos para o hospital".
Fiquei na UTI do Mater Dei sob suspeita, afastada pelos exames, de ter sofrido um acidente vascular cerebral.
Os médicos, com o apoio de minha babá Tostão, não permitiram que eu fosse ao jogo, "sádica retribuição" por eu ter sido motorista dele na Copa de 2010...
Bloguei feito louco e vi a vitória brasileira, 2 a 1, na cama do hospital, muito bem tratado, mas fulo da vida.
Sai só no dia seguinte, com a promessa de que voltaria para casa, o que não cumpri gloriosamente, para fazer a final, contra a Espanha, no Maracanã, aquela estrondosa vitória por 3 a 0 do time de Felipão que tanto prejuízo causou no ano seguinte.
Restaram a gratidão pelo carinho dos três amigos e a frustração por não ter visto os uruguaios.
Só quero voltar a dirigir para Tostão na Rússia, no ano que vem.
Para assustá-lo mais que com a mão inglesa na África do Sul.
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