Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Com técnico surpreendente e endividado, o Corinthians se supera
Bruno Ulivieri/Raw Image/Folhapress | ||
O atacante turco Kazim comemora o gol marcado pelo Corinthians na vitória contra o Avaí |
Contando as horas para festejar o primeiro heptacampeonato desde que o Brasileiro foi criado em 1971, o Corinthians de hoje entra para a história do nosso futebol muito mais pelo resultado que pelo desempenho.
Nunca um time fez primeiro turno tão extraordinário como o Timão.
Palmas para a organização e empenho obtidos pelo técnico Fábio Carille com base em relacionamento direto e reto trabalhado junto ao elenco médio do time alvinegro, hegemônico até aqui nos 17 anos do século 21, eventual demonstração de que a camisa joga.
Vitórias costumam encobrir mazelas e a maior prova disso é o pentacampeonato mundial da seleção brasileira, conquistado por duas gerações excepcionais do Rei Pelé e de Ronaldo Fenômeno, passando por gênios como Mané Garrincha, Didi, Nilton Santos, Tostão, Gérson, Rivellino, Romário, os Ronaldos e Rivaldo, para não falar de Zico, Falcão e Sócrates, que não ganharam Copas do Mundo, para azar delas, como já disse muito bem o jornalista Fernando Calazans, apesar dos Havelange, Teixeira, Marin e do Marco Polo que não viaja, na bela sacada do também jornalista André Kfouri.
O talento do jogador brasileiro é capaz de superar a miséria dos cartolas e até de encobrir suas mazelas, algo que não pode ser esquecido pela euforia do torcedor em festa, pois é obrigação do crítico não deixar passar batido.
Diferentemente do acontecido com o próprio Corinthians, quando obteve a façanha inédita do título invicto em 14 jogos na Libertadores de 2012, e que culminou no bicampeonato mundial da Fifa, ou quando venceu o Brasileiro de 2015 com o pé nas costas, e teve aqueles bons times desmontados porque nossos clubes não são autossustentáveis, é possível que o atual elenco corintiano não seja desmontado pela ausência de grandes astros.
Porque é o menos estrelado de todos os sete times que de 1990 para cá subiram ao ponto mais alto do pódio.
O que não deve ser visto como diminuição do feito, ao contrário, muito ao contrário, motivo para enaltecer a conquista de Cássio e Jô e o comando de Fábio Carille, capaz de tirar água de pedra.
Um clube endividado e dirigido por métodos antiquados e nebulosos, apesar do potencial extraordinário que sua fiel torcida significa, domina o país que trocou a beleza do jogo pela conquista de taças.
Mais parecido com a história do Brasil, impossível.
Do fim da detestável ditadura para cá, pelo menos duas vezes pareceu que decolaríamos, mas afundamos na mediocridade.
Ao contrário do que gostaríamos, nem o hepta do Timão, nem o eventual hexa da seleção, podem ser comemorados a plenos pulmões, porque vitórias sem o lastro necessário para garantir novos tempos.
Esconder o baixo nível deste Brasileiro, assim como o dos anteriores, será péssima política.
Longe de bancar estraga-prazeres. Ao reconhecer todos os méritos da campanha prestes a ser coroada com o título, impõe-se a necessidade de não tapar o sol com a peneira, porque, lembremos, o clube mais vencedor deste século chegou ao ponto de ser rebaixado apenas dez anos atrás.
Renasceu glorioso das cinzas, é certo, mas nada garante o seu futuro. Vai, Corinthians!
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