É secretária de Redação da sucursal da Folha em Brasília. Atuou como repórter na cobertura de temas econômicos. Escreve aos sábados.
Em 2018, Temer precisará responder se acredita no teto de gastos
Fred Dufour/AFP | ||
O presidente Michel Temer |
BRASÍLIA - A pouco mais de um mês para o encerramento do ano, o mercado acredita que o governo Michel Temer entregará um rombo fiscal abaixo da meta ultraelástica de deficit de R$ 159 bilhões. Analistas consultados pelo Ministério da Fazenda estimam que as contas fecharão 2017 com um resultado primário negativo em R$ 157,4 bilhões. Para 2018, apostam numa cova quase tão profunda: R$ 156,4 bilhões.
Os números são assustadores, mas não trágicos o suficiente para fazer o Palácio do Planalto conter gastos. A complacência do próprio mercado com as cifras abissais talvez explique parte da incontinência.
A equipe econômica anunciou nesta sexta (17) um desbloqueio de despesas de R$ 7,5 bilhões. A base fisiológica de Temer no Congresso pressionava por uma liberação de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões. No Ministério da Fazenda, a intenção era aproveitar a melhora na arrecadação e o dinheirinho a mais com o ágio de leilões nos setores de energia, óleo e gás para reduzir mais o deficit.
A revisão dos números da execução orçamentária manteve a estimativa de crescimento da economia em 0,5% neste ano. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e seus assessores falam publicamente em uma performance melhor e adotam uma previsão mais próxima da que vem sendo projetada por analistas —0,7%. Há que se questionar o motivo para a manutenção de um cenário menos favorável no documento oficial.
Questões em aberto permeiam o debate sobre a política fiscal temerista. Com, sem ou pelas metades, a reforma da Previdência não será suficiente para equacionar o desastre das contas públicas, e o teto de gastos poderá ser implodido em algum momento próximo de 2020.
Em agosto de 2018, a atual equipe econômica —afora Meirelles, que pode ser candidato ao Planalto— encaminhará a proposta de Orçamento de 2019 ao Legislativo. Em meio à corrida eleitoral, Temer precisará responder se ainda acredita no teto.
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