Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Lula quer mesmo disputar a eleição?

Crédito: Jorge Araujo - 18.jan.2018/Folhapress O ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva durante encontro com apoiadores, na Casa de Portugal
O ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva durante encontro com apoiadores, na Casa de Portugal

E se você fosse Lula agora? Para qual desfecho torceria?

É claro que o ex-presidente gostaria de ter a pena diminuída pelos desembargadores de Porto Alegre e quem sabe escapar da prisão. Mas penso que outro de seus desejos é ser impedido pelo TSE de participar das eleições deste ano.

O melhor que pode acontecer a Lula neste momento é ganhar uma prisão domiciliar e ficar de fora da corrida eleitoral por causa da Lei da Ficha Limpa.

Poderia ficar em casa assistindo jogos do Corinthians e entoando a narrativa de que foi vítima de um golpe arquitetado pelas elites e por juízes golpistas. "O povo", diria ele, "perdeu o direito de votar em seu grande líder".

A narrativa atual do PT, que contrapõe a Lava Jato à democracia, requer a condenação de Lula.

Já o pior para o ex-presidente é ser obrigado a concorrer. Chegaria na eleição enfraquecido, sem dinheiro da Odebrecht ou de sindicados, com a liberdade sustentada por recursos e decisões com sabor de injustiça. Uma derrota eleitoral enterraria os tão escassos argumentos do PT.

O julgamento de Lula

A indecisão sobre a candidatura de Lula beneficia seus opositores. Geraldo Alckmin só tem a ganhar com o prolongamento desse embate, que adia o lançamento da candidatura de Ciro Gomes.

Mas e se Lula ganhar a eleição? Seria uma maldição para ele (como já foi a de Dilma). Lula e os petistas voltariam à vidraça. Os movimentos antipetistas retomariam o entusiasmo de 2016. O presidente seria uma figura envergonhada ou constrangedora em conferências internacionais.

Se, depois de eleito, Lula virar ao centro, como fez em 2003, teria que dar uma de Temer. Manter o corte de gastos, reformar a Previdência, dividir o governo com os picaretas costumeiros em troca de apoio no Congresso. E ter de lidar com um povo cansado de negociatas políticas.

Se virar à esquerda, transformaria o Brasil numa Argentina, para ser otimista. Enfrentaria um dólar aos 5 reais, a inflação de volta aos dois dígitos, uma fuga completa de investidores e empresários. Difícil ver estabilidade nesse cenário.

As declarações recentes de Lula contra a imprensa e o mercado indicam que ele já percebeu ter perdido o eleitor médio. Com esse tipo de eleitor fora do radar, não adianta mais adotar um tom moderado, "paz e amor". Só sobraram os seguidores radicais —e esses se satisfazem com o discurso estridente do sindicalista dos anos 1980.

Lula espera a eleição como o peru espera o Natal. Torce pelo direito de ser esquecido, de ficar fora do abate por alguma decisão superior.

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