É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.
Falta ao governo alguém com força eleitoral para defender as reformas
Alan Marques-31.ago.2016/Folhapress | ||
O presidente Michel Temer (ao centro) no Senado, ao tomar posse do cargo em definitivo, em agosto |
BRASÍLIA - Ao se tornar presidente efetivo, no dia 31 de agosto, Michel Temer disse que era "hora de unir o país". Oito meses depois, o país parece estar unido, mas contra o governo. Temer, a duas semanas de completar um ano no cargo (somando o período de interinidade), tem 9% de aprovação e uma gestão avaliada como ruim ou péssima por 61% da população, diz o Datafolha.
O quadro se agrava quando as pessoas opinam sobre a reforma da Previdência, o trunfo do presidente para recuperar a economia e, em consequência, alavancar a popularidade: 71% a reprovam, sendo que 87% são contra as mudanças na idade mínima e no tempo de contribuição, que sustentam o texto em discussão.
Diante disso, Temer pode recuar e desistir das propostas? Improvável. O peemedebista pegou uma estrada sem placa de retorno. Apostou na reestruturação da Previdência como sobrevivência de governo e recuperação econômica. Não há outra rota para ele que não seja seguir adiante para fazer valer o discurso de que é sim impopular, mas um reformista.
Sem o respaldo das ruas, Temer tem de se pendurar na base de aliados no Congresso. O problema é que a lua de mel dele com os partidos que em tese o apoiam emite sinais de fadiga. A euforia política gerada no Palácio do Planalto no fim de 2016 com a aprovação da PEC do teto do gasto público evaporou.
Pense no dilema de um deputado candidato à reeleição em 2018: quanto vale abraçar um governo com 9% de aprovação e votar a favor de uma reforma rejeitada por 71% dos brasileiros? Ou é melhor abandonar o barco para evitar um fiasco nas eleições?
O Datafolha aponta queda significativa de Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os principais presidenciáveis que apoiam o governo. O próprio presidente tem pífios 2% das intenções (e rejeição de 64% no primeiro turno). Faz falta ao Planalto uma figura nacional e popular, com expectativa eleitoral, para defender as reformas e negociar votos no Congresso.
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