É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'The Americans' põe nuances em espionagem
QUANTOS EPISÓDIOS são necessários para uma série engrenar?
No caso de "The Americans", cujo segundo ano terminará nesta quarta-feira nos EUA e começará no Brasil em agosto, foi necessária quase uma temporada inteira. Finalmente, a trama sobre uma dupla de espiões russos (a eterna "Felicity" Keri Russell e o ótimo e contido Matthew Rhys) nos Estados Unidos dos anos 80 achou seu eixo.
O noticiário real também ajudou a série pela segunda vez, com o renovado interesse do público norte-americano pela Rússia após a crise na Crimeia. As manchetes já haviam dado o mote da série, inspirado pela descoberta, em 2010, de agentes de Moscou infiltrados nos EUA como cidadãos locais.
À primeira vista, o enredo trata de Elizabeth e Philip Jennings, enviados pela KGB (o antigo serviço secreto russo) para viverem como um casal americano e, secretamente, seduzirem burocratas e militares, cooptarem agentes e matarem desafetos do Kremlin.
Mas em uma segunda olhada (ou temporada), a série é também sobre casamento, relações humanas, política e, acima de tudo, sobre confiança. Philip e Elizabeth são estranhos juntados pela KGB para sua missão. Sua camuflagem é viver o "american way of life" dos anos Reagan em todo seu potencial, com dois filhos, morando em um subúrbio abonado perto de Washington, mantendo uma agência de turismo e frequentando a casa vizinha, coincidentemente a de um agente do FBI (algo verossímil só nas redondezas da capital americana).
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O ator Lee Tergesen em cena da segunda temporada da série 'The Americans' |
Aos poucos, porém, os dois se apaixonam e vão se descobrindo desconfortáveis em seu papel -ou papéis, já que o casal tem uma coleção infindável de perucas e personalidades que trocam a cada tarefa.
A convivência com a filha adolescente torna-se um pisar em ovos; as histórias contadas para o vizinho-agente Stan (Noah Emmerich, excelente) já não saem facilmente, e as relações fingidas mantidas com seus informantes começam a extrair da dupla confissões sentimentais reais.
É essa "humanização" dos protagonistas, antes calcados no estereótipo da frieza russa, que torna a série mais interessante. Isso e a ambiguidade de personagens como a agente da KGB Nina (a lindíssima Annet Mahendru, filha de mãe russa), envolvida com Stan, e a chefe durona Claudia (Margo Martindale), que mantém uma relação maternal e antagônica com Elizabeth, salvam o enredo do maniqueísmo.
A produção fica devendo para as séries mais caprichadas da TV paga americana (notadamente para a "prima" "Homeland"), embora isso reforce o clima de anos 80.
Já a contextualização histórica da Guerra Fria é despretensiosa. Para um espectador interessado no tema, em vez de esperar 13 episódios, vale mais (re)ver "Dr. Fantástico", filme que completa agora 50 anos e foi produzido no auge da crise.
"The Americans" é exibida às 23h de domingo pelo FX, que reprisa a primeira temporada e deve estrear a segunda em agosto
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