É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.
Opinião: Um chá pode ser a melhor maneira de engajar os funcionários
Na semana passada, conheci um professor de projeto de escritórios que me falou com entusiasmo sobre a criação de espaços visionários para que as pessoas trabalhem, e sobre encher o ambiente com o cheiro de lençóis recém-lavados. Depois de ouvir por algum tempo, protestei dizendo que o que queria de um edifício de escritório era iluminação natural e algo confortável em que sentar.
"Para você é normal dizer isso", ele protestou. "Você não se preocupa com o ambiente que a cerca porque ama seu trabalho. E para a maioria das pessoas isso não é verdade".
É verdade que gosto de meu trabalho. Também é verdade que a maioria das pessoas não gosta nem um pouco dos seus. (Vou evitar a palavra "amor", aqui, quanto mais "paixão", porque as duas são reprováveis para um funcionário.)
Cada semana traz uma nova pesquisa mostrando o quanto as pessoas desgostam de seu trabalho.
Na semana passada, um estudo mostrou que 77% dos trabalhadores britânicos sentiam ter escolhido a carreira errada. Nos Estados Unidos, um relatório recente reportava que apenas 19% dos trabalhadores se confessavam satisfeitos com seus empregos.
GOSTAR OU NÃO
Essa questão de gostar ou não do emprego é a maior diferença entre os trabalhadores satisfeitos e insatisfeitos em um escritório, e afeta como nos sentimos sobre o projeto do espaço - e sobre tudo mais.
Mas a divisão entre essas duas alas é misteriosa - e pouco se relaciona ao sucesso e dinheiro. Pessoas poderosas com grandes salários quase nunca gostam de seus empregos. O que as faz manter a dedicação é algo de muito mais disfuncional.
Veja o exemplo de Stephen Hester, que está a ponto de perder um dos mais bem pagos e mais odiados postos no Reino Unido, a presidência do Royal Bank of Scotland.
"É um emprego muito difícil e muito doloroso", ele admitiu na semana passada. Mas em lugar de se sentir feliz por desocupar a vaga, havia decepção em seu rosto ao fazer essa declaração.
É fácil concluir que o desapreço maciço pelos empregos executivos é uma aflição moderna. Seria possível afirmar que deriva de os trabalhos serem estressantes demais - e de as expectativas serem altas demais.
Quanto mais se diz às pessoas que seus trabalhos deveriam ser estimulantes e significativos, mais desagradável elas considerarão as coisas corriqueiras e repetitivas a que dedicam seus dias.
Mas na verdade não acredito que a doença seja moderna, de forma alguma. É algo que vem de longe: a maior parte das pessoas não considera que ser escravo do salário - mesmo em um posto privilegiado e executivo - seja um arranjo especialmente agradável.
CONSELHOS ANTIGOS
O mais sábio livro de autoajuda de todos os tempos, escrito por Arnold Bennett, aponta para esse aspecto muito bem: "A maioria dos homens de negócios médios, conscienciosos e decentes... não se aplica tão conscienciosamente quanto poderia a ganhar a vida... e sua vocação mais os entedia que os interessa", ele escreveu.
O livro se chama "How to Live on 24 Hours a Day", e pode ser baixado de graça. Recomendo que você o leia. Mas, se não quiser se dar ao trabalho, posso contar que Bennett aceita como normal uma insatisfação amena com o trabalho. É perfeitamente natural. Ele não sugere que a pessoa busque outro emprego, ou tente melhorar o posto que exerce.
A resposta, diz, é que cada trabalhador entediado encontre algo que o absorva e melhore para fazer nas horas que passa nem trabalhando e nem dormindo.
Alguns dos conselhos que o livro oferece são um tanto antiquados. A maioria de nós enfrentaria dificuldade de entender as sugestões de instruir o criado a deixar uma bandeja com "dois biscoitos, uma chávena e pires, uma caixa de fósforos e uma lamparina" para o chá matinal que nos ajudaria a iniciar um dia de leitura complicada. Mas o princípio que ele propõe é altamente sensato, quanto ao resto. E está completamente fora de moda.
A solução moderna para o problema do desapreço pelo emprego é o movimento pelo "engajamento do trabalhador", no qual empregadores se esforçam por envolver mais seu pessoal no trabalho. Por meio de esforços admiráveis como esse, as pessoas passam a desgostar um pouco menos de seus trabalhos, mas duvido que o método as leve a trocar o desapreço por seu oposto.
ENGAJADOS
Gostar do emprego vem de três coisas, nenhuma das quais está sob o controle do empregador. Pode vir de dentro: algumas pessoas têm a sorte de ter temperamentos positivos que as ajudam a ver tudo da melhor maneira. Pode vir de gostar das pessoas com quem se trabalha. Ou pode vir do trabalho em si.
A maioria das pessoas acha mais fácil gostar de um trabalho que envolva alguma arte. Escrever é uma arte, e é por isso que gosto do meu emprego.
O professor estava certo quanto à parcialidade do meu julgamento. Porque gosto do meu trabalho, tendo a desdenhar naturalmente a ideia do cheiro de lençóis fresquinhos.
Em contraste, Bennett passou muitos anos entediado em "posições subservientes de negócios" e por isso deveria ser levado mais a sério ao dizer que "encontrar o balanço mais sábio e mais adequado para a vida pode depender da disponibilidade de uma chávena de chá".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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