É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.
Brasil-sil-sil!
Dois fatos recentes, desta semana mesmo, levam à triste constatação de que, por mais que mude e melhore, o Brasil parece permanecer no mesmo lugar, como que se recusando a abandonar práticas de um país de quinta categoria.
Desacato incompatível com o comportamento republicano e civilizado, ainda mais com o do mais alto magistrado da mais alta corte do país. Isso é o mínimo que se pode dizer do tresloucado destempero do ministro Joaquim Barbosa diante de uma pergunta de um repórter, o qual chamou de palhaço, mandando-o àquela parte sob o eufemismo de "vá chafurdar no lixo".
Não pode!
Como diria outro juiz, hoje bem menos famoso que o homem da capa preta do chamado mensalão, o Arnaldo César Coelho, a regra é clara: ministro do Supremo deve ser referência inatacável de civilidade e compostura.
Seu descontrole é tão inaceitável quanto as desculpas de que estava cansado e com dor nas costas.
Ora, durante o protagonismo do mensalão o magistrado estava sempre com ar de cansaço e com dores aparentemente terríveis nas costas.
Seria o caso, então, de pedir desculpa pelos votos quase todos eles condenatórios que proferiu contra os réus daquele processo?
Cartão amarelo, doutor Barbosa.
*
O cidadão diz em redes sociais que, na sua visão racista da Bíblia, os negros são amaldiçoados, posto que africanos. Além disso, afirma sem pudores e sem esconder pendor homofóbico que uma orientação sexual diversa da sua é a origem de uma doença terrível como a Aids, ressuscitando a expressão pré-medieval hedionda "câncer gay".
E ainda assim é eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Não pode!
Tudo bem que o Brasil não é mesmo o paraíso do respeito à dignidade humana, adquiriu vasto know-how de abusos ao longo de sua história de desigualdades, fez pós-graduação em tortura nas duas décadas de ditadura e ainda hoje mantém práticas desumanas nas superlotadas prisões espalhadas pelo seu território.
Sem falar na quantidade de pessoas que são agredidas e mortas país afora por conta de seu comportamento sexual.
Mas o Brasil tem também histórico de lutas e enfrentamentos em nome da dignidade humana, por conta da atuação de uma boa legião de abnegados, cujo patrono, ouso afirmar, é o grande dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo.
A eleição deste deputado religioso fundamentalista para a CDH ofende tanto a memória de milhares de vítimas como a de todos os que almejam um país mais digno.
Cartão vermelho, senhor Marco Feliciano.
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