É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.
O que querem os brasileiros?
Em rápida turnê de trabalho pela península ibérica, chego preparado para encontrar Portugal e Espanha em frangalhos por conta da crise avassaladora que jogou os dois países em depressão no buraco. Estes eram os sintomas detectados antes de aportar, e é isso que dizem os noticiários impressos, televisados ou internetados: economia parada, desemprego, recessão.
Mas não é isso que vi nas ruas. Estamos nos finalmente do verão por aqui, e as cidades que visitei (Porto, Évora, Lisboa, Barcelona) fervilham de turistas numa temporada de férias que deu um belo respiro nos 30% de desemprego na moçada espanhola (menos que isso na portuguesa, mas também acachapante). Verão é sinônimo de um monte de empregos temporários, o que dá um certo refresco - sem trocadilhos.
Uma nova amiga jornalista de Portugal me diz que as perspectivas começam a melhorar, mas elas, as perspectivas, não estão na mídia, apenas na esperança da gente que tenta se virar. Os noticiários permanecem apocalípticos, com uma dose extra de pessimismo porque contaminado pela campanha pelas vizinhas eleições legislativas portuguesas: todos pioram o já ruim para oferecer as suas próprias soluções...
Mas o fato é que há um pouco mais de dinheiro circulando (ao menos nas cidades mais turísticas), e adivinhe que sotaque tem este dinheiro de férias que oxigena um pouco que seja o sufoco português e espanhol: brasileiro, claro! Dizem-me que os brasileiros só perdem para os alemães e se igualam aos orientais nos pontos de turismo e compras.
Um outro recém amigo, este ligado à indústria do vinho, ganha brilho nos olhos quando começa a falar do Brasil como uma "potência" - para o desespero de meus colegas brasileiros de viagem, que logo torcem o nariz. "O Brasil está a conquistar a todos", diz o espanhol vinhateiro, diante do enfado dos coleguinhas inconformados com embargos infringentes.
"Mas afinal o que querem os brasileiros", me perguntou a jovem jornalista portuguesa, citando de cor dados sobre o pleno emprego, os baixos índices de nossa inflação e o fato de o país não ter sucumbido à crise e bem ou mal continuar crescendo.
Ela fica ainda mais chocada quando a corrijo quando diz que as manifestações de junho levaram "o povão" para as ruas. Não, o povão ficou em casa, nas grandes periferias, bem satisfeitinhas com o que têm a mais e aquilo que pode comprar. Explico que fundamentalmente a bronca, apontam diversas pesquisas, é da classe média.
"Mas não é justamente esta classe média que está a mais trabalhar e mais a comprar de um tudo?", se espanta minha amiguinha lusitana. "Afinal, o que querem os brasileiros", repete...
Nada do que digo (são os 20 centavos do ônibus, a corrupção de ontem e de hoje, a péssima qualidade dos serviços públicos e tudo o mais) parece fazer sentido para ela e para sua mentalidade europeia.
"É, preciso voltar ao Brasil para entender o que está a acontecer..."
Será que vai adiantar?
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