Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
A nossa guerra na mídia
Os moradores da Rocinha, maior favela do Rio, vivem desde a madrugada do dia 9 uma terrível situação de guerra. O enfrentamento entre dois comandos do narcotráfico pelo domínio territorial do morro resultou na sua ocupação pela Polícia Militar e em 12 mortes de moradores, policiais e traficantes.
A imprensa se mudou para a Rocinha e tanto os jornais do Rio como os de São Paulo fizeram uma cobertura extensa. Junto com o noticiário factual, ofereceram artigos analíticos e reportagens de apoio com enfoques variados, mas que tentavam buscar entre especialistas explicações e apontar soluções.
Foi uma boa cobertura? Acho que, no geral, sim, porque conseguiu acompanhar de perto o drama de uma comunidade invadida e porque mais uma vez suscitou o debate sobre as raízes das mazelas de nossas cidades.
Mas foi uma cobertura que expôs deficiências.
A primeira delas é a constatação de que também para a imprensa há duas sortes de cidadãos. Por mais que se esforcem, a ótica dos jornais está voltada para os transtornos que se abatem sobre os vizinhos de classes média e alta, mais do que para os dramas dos moradores da favela. Os episódios de invasões de morros e mortes são uma constante no Rio, mas só merecem atenção maior quando ocorrem na zona sul.
Outra constatação é a falta de continuidade no acompanhamento sério do assunto. A violência se instalou nas nossas cidades na forma de bandos fortemente armados há duas décadas e a cobertura das causas, do entorno social e das políticas de segurança é irregular. Isso dá a sensação de inconseqüência, de superficialidade e de sensacionalismo.
A cobertura da violência, de suas causas e soluções, exige profissionais tão preparados como os de outras áreas já especializadas do jornalismo.
O caso da Rocinha apontou ainda para dois problemas sérios para os jornalistas: os riscos que correm e a falta de fontes nas comunidades dominadas ou invadidas. Os dois problemas estão relacionados.
Desde a morte do jornalista Tim Lopes, em junho de 2002 na Vila Cruzeiro, quando fazia uma reportagem sobre o uso dos bailes funks pelo tráfico, os jornalistas do Rio não entram mais com tranqüilidade nas favelas. O acirramento dos conflitos e a hostilidade em relação à imprensa, identificada pelos traficantes como alcagüete, fizeram com que várias empresas, inclusive a Folha, adotassem procedimentos para garantir a segurança de seus profissionais. Estas empresas têm hoje carros blindados, várias colocam à disposição de seus profissionais coletes à prova de bala e todas adotaram como norma não permitir que seus jornalistas corram qualquer tipo de risco por entenderem que nenhuma reportagem justifica uma vida.
Mesmo com todos estes cuidados, repórteres e fotógrafos continuam vulneráveis quando explodem episódios como este da Rocinha. Na segunda-feira, as ameaças dos traficantes foram diretas, e na quinta, durante o enterro do chefe dos traficantes, os jornalistas foram agredidos por moradores.
Como decorrência deste problema temos que desde a morte de Tim Lopes ficou mais difícil ouvir os moradores das favelas e, portanto, a imprensa ficou dependente de fontes oficiais, como a polícia e as associações de moradores, muitas delas ligadas ao tráfico.
Este é um problema seríssimo, talvez o mais sério neste momento porque priva os moradores de um canal de expressão e os leitores de informações mais precisas.
Reproduzo, nesta página, três entrevistas sobre essas últimas questões, a dos riscos dos jornalistas e a dificuldade de acesso a informações locais.
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