Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
Tempos difíceis
A "IstoÉ" produziu, na semana passada, uma edição histórica, para o bem e para o mal.
Sua principal reportagem, "Presidente e diretor do BC esconderam da Receita bens no exterior", derrubou na quarta-feira o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto de Oliveira Candiota. Estranhamente, no entanto, a capa da revista não foi a reportagem exclusiva, mas um material sobre o Rio de Janeiro com cara de publicidade disfarçada.
O Cristo Redentor, com capacete e ferramentas de operário, gravata e uma pasta de executivo, ilustrou o título "Rio trabalhador (apesar da fama em contrário)". Dentro, foram 19 páginas de textos, sem autoria e sem nenhum vislumbre de senso crítico jornalístico, e duas páginas de anúncios do Sesi (Serviço Social da Indústria) do Rio, que faz parte do Sistema Firjan, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.
O material começa com uma entrevista com a governadora Rosinha Matheus (PMDB), segue com outra com o presidente da Firjan, Eduardo Gouveia Vieira, e trata de demonstrar o "vigor econômico" do Estado. Não há uma referência ao problema da criminalidade, não há uma linha a respeito das mazelas sociais, não há uma menção às empresas que deixaram o Estado.
A edição desse tipo de material laudatório, sem compromisso com o jornalismo, não teria problema se viesse carimbada como produto publicitário e a identificação de quem está pagando. Nesse caso, o cidadão fluminense, ou um sócio da Firjan, poderia se sentir lesado e reclamar, mas a revista e o anunciante estariam sendo honestos com seus leitores. E, nesse caso, jamais seria capa de uma revista de informação.
Procurei a direção da "IstoÉ", a Firjan e o governo do Estado. Queria saber se o material foi pago e por quem.
O secretário estadual de Comunicação Social, Ricardo Bruno, responsável pela aplicação das verbas publicitárias do governo fluminense, informou que o Estado não pagou pelo material da "IstoÉ". "Fomos procurados com a informação de que fariam uma radiografia econômica do Rio que inauguraria uma série de radiografias que farão em vários Estados."
A direção de Redação da "IstoÉ" e a Firjan não quiseram comentar o assunto.
É público, e já tratei desse assunto em algumas colunas, que as empresas de jornalismo vivem grave crise de endividamento. Também é notório que a disputa por anúncios ficou mais acirrada com a chegada de novos veículos e porque o bolo publicitário cresce muito lentamente.
Isso faz com que jornais, rádios, revistas e televisões se empenhem em buscar formas "criativas" de atrair anunciantes. É um período difícil, em que um dos princípios da independência jornalística, o que separa a redação da publicidade, é perigosamente afrontado.
Mas nenhuma crise ou pretexto pode servir de desculpa para o rompimento desse princípio. As empresas jornalísticas, se pretendem manter a credibilidade, devem estar cientes de que os leitores avaliam como se conduzem, principalmente nos períodos mais difíceis.
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