Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
Corrupção e imprensa
A imprensa brasileira é corrupta? Ela pode ser comprada por forças políticas, por grupos econômicos ou pelo poder público?
O chamado cidadão comum, aquele que se dispõe a parar na rua para responder a uma pesquisa, acha que sim. Não tão corrupta como os partidos políticos, a polícia ou as casas legislativas. Mas, tanto quanto outras instituições, a imprensa está bastante sujeita à corrupção.
Essa é a percepção dos brasileiros entrevistados por uma megapesquisa, em 62 países, coordenada e analisada pela Transparência Internacional (www.transparency.org). O resultado foi divulgado na quinta-feira, Dia Internacional contra a Corrupção, e teve pouca repercussão entre nós.
Em uma escala de 1 a 5, em que a nota mais baixa indica lisura e a mais alta muita corrupção, os entrevistados foram instados a avaliar 15 instituições e setores.
No nosso caso, os resultados mostram que os brasileiros são muito desconfiados e acreditam que a corrupção é quase generalizada. Na escala de 1 a 5, os partidos políticos (4,5), a polícia (4,4) e o Legislativo (4,2) ficaram com as piores médias. Esses números indicam que é muito alto o percentual dos que acham que essas instituições estão muito afetadas pela corrupção.
Na outra ponta, entre as instituições mais bem avaliadas, a média também é uma lástima e não justifica nenhuma comemoração. As entidades religiosas e as ONGs tiveram média 3, e as Forças Armadas, 3,4. Entre esses dois extremos mal avaliados está a imprensa brasileira, com 3,6.
Não é a imprensa mais mal avaliada: os peruanos deram 4,2 (ou seja, quase o máximo de sujeição à corrupção), os venezuelanos, 4, e os guatemaltecos, 3,7. Depois vem o Brasil, acompanhado da Costa Rica, da Coréia do Sul e do México.
No conjunto dos 62 países pesquisados, os meios de comunicação tiveram média de 3,3 e ficaram exatamente na metade da escala.
E por que os brasileiros desconfiam assim de seus veículos de comunicação? A pesquisa não responde. Essa é uma questão delicadíssima e difícil de ser tratada com precisão porque faltam elementos.
Não existe uma imprensa brasileira, mas várias. A situação dos grandes diários do Rio e de São Paulo, das revistas semanais e das grandes emissoras é bastante diferente daquela vivida pela imprensa regional e pela imprensa das pequenas cidades, onde jornais e rádios são mais vulneráveis.
Mas a desconfiança hoje parece generalizada -e por duas razões principais. Primeira, a falta de transparência. Raramente a imprensa se expõe e noticia seus próprios podres. Segunda, sua manifesta fragilidade, enfraquecida que está por uma crise financeira que se prolonga.
A avaliação negativa captada pela pesquisa da Transparência Internacional não pode ser tomada como concludente, até porque não esmiuça as motivações dos que responderam ao questionário. Mas é um alerta. Mais um.
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