Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
Os subúrbios do Brasil
O "PAINEL DO Leitor" da Folha recebeu, desde que o jornal noticiou a morte do menino João Hélio no Rio, no dia 9, até sexta à noite, 598 mensagens. É um recorde. São leitores indignados com a barbárie e empenhados em participar do debate sobre soluções para a violência e a criminalidade no Brasil. O ombudsman recebeu, no mesmo período, 24 mensagens. Poucas continham críticas, o que é raro.
Vejo dois méritos na cobertura do jornal e um problema sério. Os méritos:
- Dois leitores reclamaram da descrição da morte do menino ("um horror", "sensacionalista") e uma leitora achou as capas dos primeiros dias "frias" e "insensíveis". Na minha opinião, o jornal fez uma cobertura sóbria, sem histeria.
- O jornal abriu espaço para o debate. A cobertura jornalística falhou vários dias ao não explicitar o teor dos projetos de lei que foram ressuscitados no Congresso, mas a omissão foi corrigida. As principais propostas foram debatidas nas páginas de opinião, no "Painel do Leitor" e através de entrevistas. Houve estímulo para um debate pluralista sobre a maioridade penal.
E os Estados?
O jornal errou, no entanto, ao focar apenas os aspectos penal e carcerário e deixar de lado as políticas de segurança pública. Não é um problema só da Folha. A discussão que se seguiu à morte de João Hélio saiu dos subúrbios do Rio e foi deslocada para o Congresso. É evidente que o enfrentamento da criminalidade exige ações de Brasília, dos três Poderes. Mas também é certo que a responsabilidade principal de segurança é estadual.
Com a transferência da discussão, questões relevantes ficaram sem respostas: mudou a política de segurança pública no Rio (e a pergunta vale para São Paulo, Minas e todos os Estados) com o novo governo? A nova administração tem concepção e prática de segurança distintas da anterior? Não deveria o jornal aproveitar para fazer uma avaliação das políticas públicas dos novos governadores?
No caso do Rio, a situação de guerra civil e de barbárie nesses primeiros 50 dias parece igual aos oito anos dos governos Garotinho/Benedita/Rosinha. É provável que vá haver mudanças, mas o que vemos não tem diferença.
A região onde o menino João Hélio foi arrastado e morto está abandonada e conflagrada há muitos anos. É uma situação que as medidas legislativas não alterarão. Os jornais noticiam os crimes, mas têm dificuldade para analisar o fenômeno.
Por curiosidade revi, com a ajuda do Banco de Dados da Folha, a cobertura do assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos em Brasília, em abril de 1997. (Como agora, foram jovens os que atearam fogo no pataxó: três rapazes de 19 anos, um de 18 e um de 16; a diferença é que eram de classe média e da elite e não se falava em baixar a maioridade penal.) A Primeira Página no segundo dia da cobertura é reveladora de como a situação está péssima há anos. Abaixo da manchete ("Morre índio queimado em Brasília"), o título é parecido com o que saiu nos jornais nesta semana -"Tiroteio em morro do Rio mata 3".
O morro referido é o do Alemão, onde morreram esses dias pelo menos seis pessoas. Não há novidades nem na guerra entre traficantes (bem armados desde ao menos 1985) e milícias (herdeiras reequipadas dos esquadrões da morte que infernizaram a Baixada Fluminense nos anos 70 e 80).
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