Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
Paes dos pobres
RIO DE JANEIRO - Uma das melhores notícias do verão carioca surgiu na região com o maior número de jovens e um dos menores IDHs [Índice de Desenvolvimento Humano] da cidade: Deodoro ganhou um piscinão, e de padrão olímpico.
O acontecimento é um exemplo do bom legado que os Jogos podem deixar: num bairro de calor infernal, carente de opções de lazer e cuja praia balneável mais próxima fica a 30 km, foi construído um complexo esportivo que será um dos polos da Rio-2016 e permitiu-se que os cidadãos utilizassem uma das instalações, o circuito de canoagem slalom, rio artificial com corredeiras e lago.
"É o primeiro legado da história de uma Olimpíada que a população começa a usufruir antes dos Jogos", disse o prefeito Eduardo Paes (PMDB) na inauguração, em 23 de dezembro.
É verdade, mas foi um legado conquistado na marra: desde que a água brotou como um oásis no deserto, em setembro, a molecada vizinha começou a invadir o lugar para se refrescar. Paes, astuto como sempre, sentiu o problema potencial e se antecipou, decidindo abrir o parque oficialmente.
O resultado foi o sonho de qualquer marqueteiro político. "Foi como uma medalha de ouro para a população", disse um morador da região ouvido pela Folha.
É por iniciativas como essa que Paes se gaba de ser benquisto entre a população mais humilde, que o reelegeu contra a "elite demofóbica" da zona sul do Rio –na qual ele nasceu e foi criado.
"O único político da elite carioca que tem sensibilidade sou eu", disse o prefeito recentemente à "Veja", no melhor figurino de pai dos pobres.
Este mesmo prefeito sensível, no entanto, adiou, no começo deste ano, o prazo para que 100% da frota de ônibus da cidade tenha ar condicionado –antes, a data-limite era o fim de 2016; agora, ficou para 2017. Talvez falte a Paes mais sensibilidade térmica.
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