Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
O Estado caloteiro
RIO DE JANEIRO - Até dezembro passado, o Estado do Rio pagava seus servidores no segundo dia útil do mês. A partir de janeiro, começou a pagar no sétimo dia; em março, no 10º. Agora, em abril, anuncia que, além de atrasar, não vai pagar a todos integralmente.
A situação beira o inacreditável. Com 462 mil servidores, entre ativos e inativos, uma folha salarial em torno de R$ 2 bilhões mensais e um deficit de R$ 20 bilhões neste ano, o Estado começou a escolher quem vai receber seu salário de uma única vez e quem vai ter de engolir um parcelamento. É claro que a corda estourou no lado mais fraco.
Servidores da segurança, saúde e educação tiveram sua remuneração garantida em uma única parcela -são áreas fundamentais, já próximas do colapso e com funcionários em greve. Aos demais, resta adaptar-se ao parcelamento compulsório.
Como não paga em dia, o governo decidiu mexer na outra ponta: um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa -e que ainda depende de sanção- permite a servidores públicos do Estado mudar a data de pagamento de contas de água, luz, gás, impostos e taxas estaduais. Difícil vai ser negociar com os bancos o adiamento da fatura de cartão de crédito.
A situação é tão esdrúxula que mesmo o prefeito Eduardo Paes, peemedebista como o governo estadual, resolveu tripudiar das agruras de seus correligionários, tentando também destacar-se da ruína. "Aqui a gente vai cuidando das finanças da prefeitura!", escreveu em uma rede social, acrescentando hashtags como #custoéigualaunha #temquecortarsempre e #saláriosemdia, #fornecedoresemdia.
Malgrado o descabido tom engraçadinho, Paes tem razão: não há truque de contabilidade que seja capaz de salvar o governo estadual dos cortes de despesas que terá de fazer para continuar cumprindo o básico, que é pagar em dia quem trabalha.
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