Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
A cultura quer Dilma?
RIO DE JANEIRO - "Por que estão matando a cultura?". A pergunta não surgiu no rastro da recente extinção do ministério, já revertida. Ela foi feita em 2014, sob o governo Dilma. Servia de mote para um protesto de servidores, que tinham acabado de fazer greve por mais de um mês.
Ao extinguir o Ministério da Cultura, Michel Temer deu gás para que setores não necessariamente convergentes do mundo das artes se unissem para reverter sua decisão. Ao brado de "volta, MinC" juntou-se o "fora, Temer", ainda que não haja unanimidade quanto à versão de que sua ascensão foi um "golpe".
Mas quem está com saudade do tratamento que a gestão de Dilma Rousseff dava à cultura? "Nada andou no governo Dilma. Todas as políticas ficaram estagnadas. Não há mais diálogo entre os gestores e os servidores. O clima no ministério está o pior possível", disse um conselheiro da associação dos servidores do MinC, no fim de 2014.
As ministras Ana de Hollanda (2011-2012) e Marta Suplicy (2012-2014) colecionaram críticas. A volta de Juca Ferreira ao cargo atenuou parte das reclamações, mas não deu mais prestígio à pasta. O já diminuto orçamento do MinC vinha encolhendo. De 2015 para 2016, a queda foi de 25%.
Só de dívidas vencidas há um total R$ 236 milhões a pagar. Nos últimos anos, o ministério teve taxa de evasão de 53% de novos concursados, sem reposição.
A era petista viu sucessivas greves de funcionários públicos ligados à cultura, por demandas salariais e de infraestrutura: em 2005 (95 dias de paralisação), 2007 (mais de 60 dias), 2011 (21 dias), 2014 (36 dias).
Os manifestantes que se dizem determinados a ocupar os prédios da Cultura até a queda de Michel Temer podem se preparar para uma esticada, caso consigam seu objetivo. O MinC nunca foi –e nada indicava que seria– relevante sob Dilma Rousseff.
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