Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
A paz olímpica
RIO DE JANEIRO - Não é difícil manter uma paz temporária no Rio, mesmo com a geografia caótica da cidade dificultando e com três facções criminosas fortemente armadas em guerra entre si, contra milicianos e contra a polícia.
A cidade já conhece o esquema ao menos desde a Eco-92, passando pelo Pan-07, pela Rio+20 (2012) e pela Copa-14: as Forças Armadas entram em cena ostensivamente, com seus tanques, aeronaves e navios. As polícias reforçam o patrulhamento das ruas e cessam as incursões em favelas, para evitar confrontos com traficantes. Somem os mendigos, os pivetes e a população de rua, ao menos nos bairros turísticos.
O resultado é que o Rio se transforma numa zona de segurança para que turistas e participantes do evento da vez —cientistas, políticos, papas, atletas— possam ir do Galeão até seus hotéis na zona sul ou na Barra sem o risco de serem alvejados no trajeto.
É esta paz artificial que os cariocas passam a experimentar novamente neste mês, em preparação para a Olimpíada de agosto. Serão 21 mil homens da Forças Armadas no Estado, quase todos na capital, além de 47 mil policiais civis, militares, federais e da Força Nacional, para vigiar desde as vias principais às arenas esportivas.
Mas se ocupar militarmente uma área fosse suficiente para garantir segurança perene, o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora não estaria desmoronando como está. A conclusão é tão óbvia que mesmo políticos e o secretário de segurança admitem abertamente: enquanto a única face visível do Estado em áreas pobres for a da polícia, nunca vai haver paz duradoura para a cidade.
A julgar pelas experiências anteriores em grandes eventos, a Rio-2016 deve transcorrer sem problemas graves de segurança. Mas, parafraseando Marcelo Yuka, esta falsa paz olímpica é a paz que o Rio não pode seguir admitindo.
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