Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.
A pinguela e a solidariedade
Este começo de ano lembra alguns filmes antigos, com contrastes dramáticos e reações exageradas em meio a um sofrido otimismo, ao fim justificado. A diferença por aqui é que tragédias podem ocorrer.
O processo de piora da economia pode estar perto do fim. Os anúncios da política monetária sugerem preocupação com a retomada da atividade, fortalecida pela menor inflação. Existem, porém, obstáculos para a retomada.
Muitos setores cresceram na última década graças a proteções insustentáveis, como em óleo e gás, automóveis e estaleiros.
Muitas empresas não irão se recuperar, mesmo com a retomada da economia, o que pode resultar em problemas sociais em algumas regiões, revivendo o drama de Detroit, nos Estados Unidos.
Políticas de qualificação e identificação de novas oportunidades de emprego são necessárias para cuidar dos trabalhadores, vítimas da proteção setorial fracassada.
Houve avanços importantes na agenda de reformas fiscais, mas também decisões preocupantes, como a lei aprovada de renegociação das dívidas dos Estados. Foram rejeitadas as medidas de ajuste para ajudar a superar os graves problemas.
A crise dos Estados não decorre das suas dívidas, mas dos gastos com folha de pagamento de ativos e inativos, que vão aumentar com o envelhecimento dos servidores.
Recentemente, o governo federal passou a enfrentar o problema com a severidade necessária. A negociação com o Estado do Rio de Janeiro discute duras medidas estruturais. O longo ajuste necessário decorre dos muitos anos de irresponsabilidade.
Esse acordo pode indicar uma saída para Estados e municípios que estão a caminho de uma crise fiscal com a mesma gravidade do Rio.
Existem, porém, muitos riscos. Não será fácil concluir bem os acordos com os governos locais. Afinal, quem vai pagar a imensa conta?
No meio desse difícil processo, a falência do poder público se manifesta em serviços essenciais de saúde, educação e segurança, cuja face trágica mais recente é a crise dos presídios. Qual será a reação da população ao colapso?
Aproveitar a janela de oportunidade requer cuidado na negociação com os governos locais e na reforma da Previdência. Ela também requer medidas para proteger serviços essenciais à população e auxiliar os trabalhadores dos setores que se revelaram inviáveis. As nossas escolhas de política pública são responsáveis pela crise. Devemos ser solidários na transição.
A queda de um avião e a morte de pessoas são sempre uma tragédia. Quando, porém, resulta em grave preocupação sobre processos importantes para o país, revela-se a fragilidade do momento.
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