Foi editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que Não Terminou'.
Brasil faz Copa de malandro otário
"Brasil conclui estádios no prazo e testes são positivos"
"Brasileiros dão exemplo com Copa econômica e criativa"
"Copa ajuda Brasil a dar salto em infraestrutura"
"Cronograma de obras urbanas é 100% cumprido"
"Obras para Copa melhoram mobilidade e vida da população"
"Governo aproveita Copa para pressionar dirigentes e modernizar entidades esportivas"
"Depois de êxito nos preparativos para Copa, COI diz que está tranquilo para Olimpíada"
"Imprensa internacional elogia organização e mudanças no país"
Essas são algumas manchetes que poderíamos ler ou de ter lido a respeito da organização da Copa do Mundo no Brasil. Há sete anos, quando o país obteve a confirmação da Fifa para sua candidatura única, isso ainda parecia possível.
Se bem que já eram evidentes, naquele momento, os sinais de que a coisa não seguiria pelos caminhos da eficiência e do bom senso.
Afinal, logo no início o interesse político prevaleceu sobre o interesse do país, com a injustificável escolha de 12 cidades-sedes. Muitos reclamam, com razão, das imposições da Fifa, mas esquecem que mesmo a complicada entidade máxima do futebol preferia oito sedes –dez no máximo. A "imposição", no caso, foi do governo do presidente Lula. Ao custo de torrar dinheiro em elefantes brancos milionários que não servirão para nada depois.
Faltando menos de dois meses para o início do torneio, já se sabe que essa terá sido a Copa da perda de oportunidades e do desperdício.
Não creio que teremos um fracasso retumbante na realização do Mundial, mas os governantes e as elites políticas demonstraram mais uma vez seu crônico subdesenvolvimento mental, o desrespeito pelo dinheiro público e o descompromisso com o país. Como resumiu, com esportividade espantosa, o presidente da Infraero, manifestando-se sobre as metas não cumpridas no aeroporto de Confins: "Podemos tapear as obras de modo que melhore a operacionalidade".
Entramos, portanto, em campo como os tapeadores de sempre: o Brasil simpático e bom de bola, mas medíocre, disfuncional, corrupto, enrolão. Jogamos pela janela a chance de mudar a percepção sobre nossos padrões de eficiência e governança.
Ainda somos aquele agigantado desperdício tropical, com moscas zumbindo e bundas douradas enfeitando as praias. E, é claro, uma galera animada, boa de festa e sempre disposta a dar um chute na ética e nas leis para levar vantagem. É o que disse o goleiro do Flamengo: "roubado é melhor".
Nós, os malandros otários.
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