Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Turbinar as Américas
Se o Brasil estiver procurando um bom lugar para dar um cavalo de pau em sua política externa, vai uma dica: comece pelas Américas.
A Europa é mais do que uma realidade forjada no passado e na geografia. Em meio a recorrentes solavancos, é um projeto de integração em movimento.
Apesar de histórico recheado de ressentimentos, potências asiáticas –como China e Japão– estão cada vez mais interdependentes. Com seu novo banco de desenvolvimento, a Ásia emerge como palco privilegiado do capitalismo contemporâneo.
A África, esquecida tempos atrás, ostenta a economia continental que mais cresce. É também a região mais impactada pela recepção de investimentos chineses oriundos da nova projeção global de Pequim.
Já no âmbito do continente americano, o que mais impressiona é a ausência de qualquer iniciativa de monta. Deixamos de negociar, há mais de dez anos, uma área de livre comércio da Patagônia ao Alasca.
No campo da segurança internacional, o Tiar, Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, figura apenas como item de museu da imaginária cooperação hemisférica durante a Guerra Fria.
Outra vítima do fraco diálogo continental é a OEA. À semelhança de ONU e OMC, a Organização dos Estados Americanos encontra-se numa encruzilhada. Enfrenta duplo desafio: ineficiência e má vontade de Estados-membros.
O método de trabalho em que tudo tem de ser aprovado por consenso atravanca a eficácia de sua governança. Apesar de seus muitos defeitos, a OEA confirma lógica válida também para outras instituições multilaterais. O mundo é ruim com elas; pior sem elas.
A OEA ajudou na resolução de conflitos e construção institucional na América Central nos anos 90. Seu desempenho como órgão de supervisão eleitoral em todo continente é impecável. Sua Comissão Interamericana de Direitos Humanos é referência para entidades congêneres no mundo todo. Nos últimos anos, porém, a OEA parametrizou-se por uma indesejada dualidade.
Por um lado, o crescente desengajamento dos EUA em assuntos hemisféricos. Tal desinteresse acompanha-se do pivô para a Ásia-Pacífico de suas prioridades.
Por outro, o esvaziamento da OEA liderada pela Venezuela bolivariana e seus aliados de ocasião. Isso se deu em paralelo à criação de plataformas, como a Unasul e a Celac, cuja caraterística é a profusão retórica puerilmente anti-Washington.
Essa inoperância da OEA é exemplificadora de um mal maior que afeta as relações interamericanas. Mais especificamente, fere o potencial cooperativo de seus dois mais importantes atores, também as duas maiores democracias do Ocidente: Brasil e Estados Unidos.
Hoje, a maior economia latino-americana –Brasil– exporta US$ 25 bilhões ao ano para os EUA. A China vende anualmente aos norte-americanos US$ 450 bilhões.
A OEA elege novo secretário-geral em 2015. Uma atuação de liderança do Brasil na organização poderia relançar o diálogo no continente.
Turbinar a cooperação nas Américas é do interesse de todo o continente, e sobretudo do Brasil.
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