É jornalista e roteirista.
Escreve às quintas e sábados.
Cerimônia de abertura teve alívio generalizado por espetáculo bonito
Teve correria nos corredores e rampas do Maracanã. O brasileiro tão dado e acostumado a atrasos não acreditou no horário marcado, mas às 20h em ponto o hino informal da cidade, "Aquele Abraço", rompeu no estádio quase lotado, na voz de Luiz Melodia. Havia muitos lugares vazios para uma cerimônia tão concorrida, mas isso não atrapalhou a festa.
O sentimento geral foi de surpresa e de alívio entre muitos brasileiros presentes no estádio. "Fiquei muito emocionada, tinha um pouco de receio sobre como seria, mas foi uma surpreendente. Chorei durante o hino, nem consegui cantar", disse Ana Teresa Fernandez, 50, professora de educação física. Ela deixou marido e filha em Salvador para prestigiar a abertura dos Jogos e algumas competições no fim de semana.
Não faltou gente emocionada, limpando os olhos, engolindo o choro, engasgando com a sequência de clássicos da música brasileira, aplaudindo e dançando. Teve quem acompanhou tudo quietinha, com um sorriso no rosto. A chinesa Huangfu Hongna, membro do comitê da Olimpíada de Inverno Pequim-2022, estava encantada com as performances, mas para ela o melhor do Brasil são as pessoas. "Eu estava perdida e um rapaz andou um longo caminho para me ajudar a achar meu lugar. Ele perdeu boa parte do show por isso. Nunca vi nada igual."
Teve grito de torcida grande, como as dos Países Baixos, teve torcida quase solitária, mas com fôlego de duas inglesas, teve grito de Free Palestina, teve vaia, felizmente abafada, para a delegação da Argentina, mas teve sobretudo muita alegria, entusiasmo e recepção calorosa do público anfitrião à maioria das delegações.
Teve filas gigantes nas lanchonetes, não teve comida, nem água e só sobrou cerveja quente. Para dar um gostinho todo nosso ao evento. Mas nem isso tirou o brilho da festa.
E teve um baita alívio generalizado por termos protagonizado um espetáculo bonito, de bom gosto, grandioso. E teve muita gente se perguntando no final: por que um país tão rico culturalmente, tão colorido e alegre pode dar tão errado?
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