Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
Receita de cobertura eleitoral
Só um tremendo Garoto Enxaqueca para, contrariado com colheres a mais de açúcar no doce de abóbora, detratar um banquete digno do mais glutão dos frades.
Ou um guloso muito volúvel para, salivando com o ponto certo do brigadeiro, anistiar um repasto mais insípido que bóia de hospital.
Na corrida eleitoral, também não se recomenda tomar reportagens pontuais como o conjunto da cobertura.
Dois insucessos da Folha não configuram desacerto disseminado. Mas alertam: quem se perde no fogão e não aprende com o erro pode comprometer a refeição inteira. Acertar sempre ninguém acerta. Cabe saber se os desenganos são exceções ou o padrão.
Na quarta, a Folha publicou a reportagem "Nunca vi 1º colocado ceder lugar ao 3º, reage Alckmin". Na essência, reproduziu declarações. Não as questionou ou delas duvidou. Limitou-se a transmitir o que interessava a outros. Privou o leitor do ceticismo que caracteriza o jornalismo crítico.
Não era obrigatório, mas não custava lembrar que a tirada do pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo evoca alusão de Barack Obama acerca da sua então dianteira sobre Hillary Clinton nos EUA.
Compulsório era contrapor 2006, quando Alckmin patinava atrás de José Serra nas pesquisas e se impôs como o nome tucano ao Planalto. A Folha só apontou a contradição na edição seguinte.
O texto da quarta contou que o líder do PSDB na Câmara Municipal assinou artigo pró-acordo com o DEM do prefeito Gilberto Kassab, que almeja a reeleição -em disputa cuja terceira protagonista deve ser a ministra Marta Suplicy (PT). Citou-se o vereador Gilberto Natalini, segundo o qual houve apoio unânime da bancada ao documento.
Na véspera, informara-se que haveria carta dos vereadores, e não artigo firmado por um deles. Não se esclareceu por que não saiu manifesto coletivo. Dias antes, reafirmara-se que há alckmistas na Câmara. Na quarta, acatou-se a ficção da unanimidade.
Na semana anterior, a Folha noticiara a candidatura de Fernando Gabeira a prefeito do Rio com um tom ainda mais submisso. Nem os concorrentes do ex-colunista do jornal foram mencionados.
Aos acenos ao PT a reportagem não opôs as manifestações do deputado do PV à época do mensalão, historiando seus ataques contra o governo.
E omitiu o retrospecto ético de Marcello Alencar. O ex-governador apadrinhou o lançamento de Gabeira, defensor dos bons costumes na política.
O jornal tem espaços de sobra para opinião -de colunistas, de articulistas convidados e nos editoriais. Deveria preservar o não-alinhamento do noticiário. Na largada da campanha carioca, a Folha deu a impressão de se transformar em cronista pouco crítico de um candidato particular.
Ainda é tempo de acertar a mão no sal e no açúcar.
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