É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).
Acorda, São Paulo
O Butantã tem a população de Bauru. O Campo Limpo abrigaria uma Londrina. A Freguesia do Ó tem a dimensão de Taubaté. A Penha é como Mauá. Assim como a população de Pirituba equivale à de São José do Rio Preto.
Estamos falando de grandes cidades dentro de uma cidade-estado. Essa é a nossa São Paulo.
Um plano de zoneamento para localidades tão diferentes como Cidade Tiradentes e Lapa não pode ser igual. Jorge Wilheim, no Plano Diretor (2002), executou os Planos Regionais para dar autonomia junto a cada subprefeitura na discussão de suas prioridades, conseguindo a adequação do zoneamento às necessidades urbanísticas e às particularidades de cada região.
O zoneamento proposto pela prefeitura, vendido como "modernidade" e melhoria de vida para a população, é exatamente o contrário. Diminui a qualidade de vida nas áreas residenciais, desfigura bairros inteiros e agrava a situação dos moradores da periferia.
Um dano irreparável serão as zonas estritamente residenciais (ZERs), que deveriam ser protegidas, mas estão ameaçadas pelo excesso de corredores comerciais com impacto devastador e algumas serão extintas. Vão virar zonas mistas e, daí para a frente, com nomes sub-reptícios como zonas predominantemente residenciais (ZPRs). Na Lapa, por exemplo, mais de 25 ruas residenciais serão reclassificadas como novos corredores.
Ademais, a proposta de zoneamento também coloca em risco ambiental a cidade em razão de um mecanismo que permitirá o desmate e construções em áreas verdes públicas, como parques e praças, sob o argumento de necessidade de equipamentos públicos e com falsa compensação ambiental.
Na hora em que foram suprimidos os instrumentos de controle de verticalização pelo estoque construtivo e seus estudos prévios de suporte da infraestrutura, do sistema de transportes e viário autorizadores de novos estoques nos distritos, a verticalização ficou incontrolável.
Algo para a atenção do Ministério Público é a flagrante ilegalidade do projeto, que ignora de modo proposital a carta geotécnica da cidade. Há o incentivo à ocupação de praticamente todas as áreas de várzea que ainda existem na zona urbana, selando-se fontes hídricas com intensa permissividade ao asfalto e a grandes empreendimentos.
A proposta vai na contramão do que buscam todas as grandes cidades do mundo em matéria de crescimento sustentável. No cenário não tão distante, São Paulo ficará sufocada ambientalmente e ainda mais cara para morar.
Esse plano interessa somente ao setor imobiliário. Só não irá adiante por pressão popular. É hora de uma forte mobilização em defesa de São Paulo!
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