Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

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Martin Wolf

A economia mundial está desfrutando de uma recuperação sincronizada. Isso é boa notícia para os países emergentes e em desenvolvimento. E também uma oportunidade. Muitos desses países estão sofrendo uma desaceleração em seu crescimento potencial. Isso não resulta apenas de mudanças demográficas, mas de uma queda no crescimento da produtividade. E eles precisam enfrentar esse problema urgentemente.

O mais recente relatório do Banco Mundial destaca esse quadro. O crescimento mundial, a preços de mercado, foi estimado em 3% para 2017, e os países emergentes e em desenvolvimento atingiram os 4,3%. Este ano, a projeção de crescimento mundial é de 3,1% e, para os países emergentes e em desenvolvimento, ela é de 4,5%.

Como sempre, a expectativa é de que a Ásia registre o maior crescimento. Em outras regiões, o desempenho é menos encorajador. Os países emergentes e em desenvolvimento que exportam commodities devem crescer apenas 2,7% este ano, ante 1,8% em 2017. O Brasil está se recuperando muito lentamente de uma profunda recessão. O crescimento da África subsaariana, e do Oriente Médio e África do Norte, também deve continuar lento, com 3,2% e 3%, respectivamente.

A boa notícia, porém, é que as condições mundiais são conducentes a um crescimento amplamente compartilhado. Os preços das commodities se recuperaram. O comércio internacional também se recuperou, e a estimativa é de que tenha crescido em 4,3% no ano passado; a projeção é de que cresça em 4% este ano. O influxo de capitais às economias emergentes melhorou em 2016 e em 2017. A alta recente se concentra nas áreas de investimentos em carteira e empréstimos, mas mais da metade do influxo total está enquadrada como investimento estrangeiro direto, o que é melhor (e mais estável).

Como aponta o relatório, corretamente, os evidentes riscos negativos de "desgaste financeiro, protecionismo intensificado, e crescentes tensões geopolíticas" são ameaça para os países emergentes e em desenvolvimento. Os maiores deles têm espaço de manobra para reagir a desdobramentos internacionais desfavoráveis. China e Índia demonstraram capacidade para administrar desdobramentos externos adversos. O mesmo não se aplica à maioria dos demais países emergentes e em desenvolvimento, mesmo os grandes, como o Brasil ou a Rússia. Esses países certamente esperam que o ambiente externo seja benigno, mas se uma nova crise surgir, provavelmente sairão feridos.

O que eles podem fazer é melhorar o dinamismo subjacente de suas economias, o que também as tornaria mais resilientes. É nisso que o relatório se concentra. A desaceleração no potencial de crescimento da produtividade é um fator conhecido. A desaceleração nos países emergentes e em desenvolvimento, que apresenta pontos de semelhança, não é tão conhecida. E no entanto, ela é um problema mais perturbador.

Os países emergentes e em desenvolvimento têm maior necessidade de crescimento rápido do que os países de alta renda, porque ainda são muito pobres. Além disso, eles deveriam ter maior potencial de crescimento, por conta de sua capacidade (ao menos teórica) de reduzir a distância que os separa dos níveis de produtividade dos países de alta renda.

Mas o ritmo potencial de crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento está se reduzindo. O Banco Mundial prevê o crescimento potencial das economias emergentes e em desenvolvimento de 4,3%, em média, para o período 2018 e 2027. Isso fica meio ponto percentual abaixo da média de 2013 a 2017 e 0,9% abaixo da média da década anterior. E essa desaceleração, além disso, tem base ampla: entre 2013 e 2017, o crescimento potencial ficou abaixo de sua média histórica de longo prazo em quase metade dos países emergentes e em desenvolvimento.

A desaceleração nessas economias reflete em parte o envelhecimento de suas populações, o que também acontece nos países de alta renda. O investimento fraco e o crescimento mais lento da "produtividade total dos fatores" —uma medida da produção gerada por dada quantidade de mão de obra e capital— também são causas da desaceleração no crescimento potencial desses países.

Sem mudanças significativas nas políticas públicas, é bem provável que essa desaceleração se concretize. O envelhecimento da população continuará, na maioria dos países emergentes e em desenvolvimento. Parte da desaceleração do crescimento na produtividade total dos fatores também será inevitável. Ela pode ter se desacelerado porque as tecnologias de informação e comunicação dos anos 90, especialmente a internet, amadureceram.

A desaceleração na dissociação da produção em linhas transnacionais também pode estar enfraquecendo a difusão de tecnologia e know-how. Forças de trabalho mais velhas podem se provar menos adaptáveis. O crescimento da produtividade total dos fatores também está ligado ao crescimento do investimento. Mas, de 2010 para cá, o crescimento do investimento se desacelerou acentuadamente nos países emergentes e em desenvolvimento, dos dois dígitos que eles registravam logo depois da crise financeira internacional para apenas 3% em 2016, o pior ano para esse indicador desde a crise.

No entanto, a adoção de políticas públicas enérgicas poderia compensar a desaceleração no crescimento potencial. Melhorar a qualidade da força de trabalho é uma possibilidade, por exemplo.

Os índices de conclusão de cursos de segundo grau nesses países estão se aproximando dos registrados nos países de alta renda. Mas ainda existe espaço substancial para melhora na qualidade e quantidade da educação, especialmente no ensino superior, bem como para ampliar a participação feminina na força de trabalho.

Transformar a qualidade do ambiente político e das instituições governamentais, especialmente do sistema judiciário e da regulamentação, também poderia ser muito útil. O desfecho poderia ser mais empreendedorismo, mais competição, investimento mais alto e avanço mais rápido da produtividade.

As economias emergentes e em desenvolvimento deveriam usar o período de vigoroso crescimento econômico atual para encorajar mais investimento e realizar as reformas necessárias a elevar o crescimento da produtividade. Precisam agir agora. Os dias ensolarados jamais duram, na economia. E elas devem se preparar para as tempestades que estão por vir.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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