É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.
Ato político
Nossa estratégia sul-americana está virando o principal assunto de política externa da corrida presidencial.
Até agora, o maior beneficiário tem sido o PT, que assumiu a paternidade dos principais projetos de integração regional.
Durante os próximos meses, o partido do governo mostrará um longo histórico de iniciativas pró-América do Sul. Listará as vantagens obtidas pelo empresariado nacional e, se provocado, celebrará com alarde a discreta e exitosa diplomacia que o chanceler Luiz Alberto Figueiredo conduz na ponte aérea Brasília-Caracas.
Nesse quadro, a posição do PSDB é defensiva.
Cada vez que Figueiredo é recebido pela oposição venezuelana, fica mais difícil acusar o Planalto de conivência com o autoritarismo. Cada vez que Aécio promete flexibilizar o Mercosul, mais o governo o acusa de constituir uma ameaça à principal aposta internacional da Nova República.
Essa situação é péssima para a política externa brasileira. Se os termos do debate são esses, o PT se dará ao luxo de fazer vista grossa para tudo o que há de errado em sua estratégia regional, e a lista é longa. Da mesma sorte, a oposição terminará se eximindo do trabalho difícil de propor uma alternativa concreta e viável.
Quem paga a conta é o cidadão comum, vítima preferencial de um ambiente regional marcado por forças transacionais de narcotráfico, crime organizado, violência com armas contrabandeadas, imigração ilegal e entraves à livre circulação de bens e pessoas.
Por isso, para o eleitor de 2014, muito melhor seria se a oposição partisse para o ataque.
Isso significa Aécio explicar como seu governo fará mais e melhor para transformar a América do Sul em espaço privilegiado para o capitalismo brasileiro.
Significa explicar como fará na prática para ajudar a Venezuela, um país com o qual temos inescapável interdependência, a viver sem Chávez.
Significa dar ao eleitor uma lista de propostas básicas para levar o Mercosul e a Unasul à segunda década do século, de olho na melhoria da qualidade de vida do brasileiro médio.
O exercício, que parece simples, raramente é feito por um governante ou por um candidato à Presidência da República. Nunca é tarde para começar.
Com um gesto assim, o tucanato estaria patrocinando um ato político de grande consequência.
Tiraria do PT a suposta hegemonia sobre temas regionais, forçando o Planalto a sair da zona de conforto. Pressionaria o governo a atualizar sua visão de integração regional. Acima de tudo, dificultaria a vida daqueles que, em campo petista, limitam-se a prometer uma política externa de mais do mesmo.
Essa pressão da oposição sobre a situação, tirando-a da pachorra em benefício do interesse coletivo, é uma das grandes virtudes da democracia.
Essa deveria ser a aposta dos tucanos que vão oficializar Aécio presidente na convenção do 14 de junho que se aproxima.
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