É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.
A escolha de Marina
Crescem as apostas sobre a política externa de um eventual governo Marina Silva. Nos corredores da Esplanada dos Ministérios e nas embaixadas estrangeiras de Brasília, nos comitês de campanha e nas consultorias de risco de São Paulo, proliferam cenários prospectivos.
Como sempre, o foco é nos nomes que viriam a compor a equipe diplomática da candidata eleita: o ministro das Relações Exteriores, a secretaria-geral do Itamaraty e a assessoria internacional do Palácio do Planalto.
As listas de possíveis candidatos têm de tudo. Há embaixadores que conhecem a candidata e outros que nunca a viram, intelectuais fiéis a ela, personalidades públicas simpáticas à causa e políticos profissionais capazes de engordar uma possível base aliada.
Se existe algum pré-requisito para ser levado em conta é partilhar da crença dominante em campo marinista de que a política externa brasileira precisa ser resgatada do marasmo em que se encontra.
Segundo essa visão, o país teria hoje uma posição pior do que tinha há quatro anos.
No marinismo também existe a crença de que política externa não se limita a afetar a economia brasileira, mas também impacta a distribuição de direitos políticos, econômicos e sociais numa sociedade que continua sendo obstinadamente desigual como a nossa.
No entanto, o consenso entre quem apoia a candidata termina por aí.
Dentre os correligionários, há movimentos sociais que esperam uma guinada progressista em direitos humanos, mudança do clima, desenvolvimento sustentável e não proliferação nuclear.
Eles convivem com aquelas vozes que defendem a adoção de compromissos internacionais de cunho liberal com vistas a tirar o país do atraso, lembrando, em tom e estilo, o primeiro governo FHC.
O que une esses grupos é a visão segundo a qual a diplomacia do PT, nesses quesitos da agenda internacional, teria se mostrado lenta, acovardada, antiquada ou simplesmente ambígua.
Por outro lado, há uma parte do movimento pró-Marina que teme qualquer compromisso internacional que possa comprometer a autonomia nacional diante das grandes potências. "Não dá para trocar a defesa do nacionalismo pelo cosmopolitismo financiado pelas ONGs da Noruega", ouvi de uma pessoa que usou ironia sem estar falando de brincadeira.
O recém-lançado programa de governo de Marina dá um passo no sentido de dar mais voz aos primeiros grupos.
Resta saber se a candidata, eleita, teria o interesse e a capacidade de manter essa escolha. Uma reversão não é implausível. Afinal, o trecho de política externa no programa divulgado não foi produto de ampla consulta à militância nem de um ajuste de posições entre PSB e Rede. O material estava pronto antes mesmo de a candidata virar cabeça de chapa.
É por isso que o mercado de apostas sobre a equipe de política externa promete continuar aquecido até os resultados da eleição.
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