É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
Escreve aos domingos.
O canal do humor sem graça
No futuro, 2015 será lembrado como o ano em que o Multishow colocou no ar programas de todos os humoristas que apresentaram projetos à emissora. Mais difícil será lembrar-se de alguma dessas atrações em particular.
O sucesso da sitcom "Vai que Cola", exibida originalmente em 2013, abriu uma porteira até o momento sem perspectivas de se fechar. Quase sempre diante de plateias (claques, na realidade) e com cenários caprichados, esses programas do Multishow têm batido numa mesma tecla –a do humor popular, fácil e grosseiro.
O mais recente esforço, tão esquecível quanto os demais, é "A Grande Farsa", sob o comando de Wellington Muniz, o Ceará. O mais que talentoso humorista, imitador de mão cheia, junta-se a um time de outros grandes comediantes que nos últimos anos ganharam a chance de protagonizar programas no canal, mas igualmente decepcionaram.
Falo, por exemplo, de Tom Cavalcante ("#PartiuShopping"), Luiz Fernando Guimarães ("Acredita na Peruca") e Fábio Porchat e Tatá Werneck ("Tudo pela Audiência"), entre outros.
Ao longo de 20 episódios, exibidos diariamente, Ceará desfilou tipos conhecidos de seus fãs no "Pânico" e algumas criações novas, quase sempre inspiradas no universo da mídia, como Calvão Bueno, José Luiz Dantena, Sergio Chapeleta, Regina Ralé, Gabi Herpes etc.
A promessa de uma farsa, um "programa que engana mais que sutiã com enchimento", como disse o humorista, ficou apenas no título. Com roteiro pobre e repetitivo, "A Grande Farsa" foi uma grande oportunidade desperdiçada.
O sucesso de "Vai que Cola" mexeu tanto com a cabeça (e o bolso, provavelmente) do Multishow que o canal produziu duas outras séries nascidas de uma costela do humorístico ("spin-off", como se diz em bom português).
Uma já estreou. Trata-se de "Ferdinando Show", no qual Marcus Majella transforma o seu personagem no apresentador de um "talk show" exageradamente gay.
A plateia delira com as piadas, expressões de travesti e palavrões gritados pelo humorista.
Já nesta segunda-feira (17), é a vez de Samantha Schmütz estrear "Aí Eu Vi Vantagem", no qual dá vida à personagem Jéssica fora da pensão da sitcom original. E o próprio "Vai que Cola" ganha uma terceira temporada, cuja pré-estreia ocorre em setembro.
Uma exceção nos projetos recentes do canal foi "Os Suburbanos", criado e protagonizado por Rodrigo Sant'Anna. A série girou em torno de Jefferson, um motorista de Kombi que sonha ser cantor, grava um clipe tosco e vê a sua vida se transformar.
Ao virar Jefinho do Pagode e ganhar dinheiro, o personagem se vê em situações complicadas e engraçadas. O elenco inclui os talentosos Babu Santana e Nando Cunha. Gravado em locação, sem claque aplaudindo, "Os Suburbanos" não se limitou a explorar o talento de Sant'Anna. Diferentemente dos outros humorísticos citados aqui, o programa tinha uma história para contar.
É curioso observar que, nesta busca desesperada para seduzir o espectador da classe C que aderiu à TV paga nos últimos anos, o Multishow vai numa direção oposta à da emissora principal do grupo Globo, que tem apostado num humor menos óbvio, com "Tá no Ar" e "Zorra".
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