É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
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Seinfeld faz sucesso com talk show e livro reconstrói trajetória de seriado
Pela primeira vez, um programa exibido apenas na internet disputa o Emmy de melhor talk show. Trata-se de "Comedians in Cars Getting Coffee", criado, dirigido e apresentado por Jerry Seinfeld.
O prêmio, a ser anunciado no próximo domingo (18), conta com outros cinco candidatos, todos no ar na TV americana: Jimmy Kimmel (ABC), John Oliver (HBO), James Corden (CBS), Bill Maher (HBO) e Jimmy Fallon (NBC).
O programa de Seinfeld nasceu da sua vontade de registrar conversas informais com outros comediantes. O formato, bem básico, o coloca em cena enquanto dirige um carro antigo e depois senta em algum lugar para um café.
Sem conseguir interessar nenhuma emissora, o projeto foi abraçado, em 2012, pela Crackle, plataforma digital da Sony. Desde então, Seinfeld tem entrevistado os melhores e mais divertidos humoristas e atores cômicos de Hollywood.
Não surpreende que, em dezembro de 2015, o presidente Barack Obama tenha aceitado passear com Seinfeld pelas ruas de Washington a bordo de um Corvette 1963 e, ainda, o levado para jantar na Casa Branca.
Mesmo que não ganhe o Emmy, o comediante pode dizer que está, definitivamente, livre da chamada "maldição de 'Seinfeld'". Foi assim que ficou conhecida a dificuldade que os quatro protagonistas da série de TV, exibida entre 1989 e 1998, tiveram para emplacar outros bons trabalhos.
Julia Louis-Dreyfus, a Elaine da sitcom, foi a primeira a superar a "maldição", na condição de protagonista de "The New Adventures of Old Christine" (2006-10) e "Veep" (desde 2012). Mas Jason Alexander, o George, já fez inúmeros filmes e trabalhos na TV sem o mesmo sucesso. E Michael Richards, o Kramer, viu sua carreira afundar depois que, em um stand-up, dirigiu ofensas racistas a pessoas na plateia.
Esta "maldição" é um dos temas do recém-lançado "Seinfeldia" (Simon & Schuster, 308 págs., US$ 20 na Amazon), da jornalista Jennifer Keishin Armstrong.
Ao reconstituir a trajetória do seriado, por meio de boa pesquisa e dezenas de entrevistas, a autora procura mostrar como "Seinfeld", alimentado pelos fãs, criou um mundo próprio, ainda efervescente e altamente rentável quase duas décadas depois do último episódio.
"Seinfeldia" sublinha, em especial, o papel de Larry David na criação e desenvolvimento do seriado. Amigo de Seinfeld, igualmente vindo do circuito de comédia stand-up, foi ele que deu o tom mordaz, muitas vezes politicamente incorreto e amoral do programa.
Nenhum dos dois tinha qualquer experiência em TV, o que os ajudou a subverter o formato das "comédias de situação". Estabelecerem como premissa que nenhum episódio terminaria com abraços entre participantes ou lições para o público ("no hugging, no learning").
Também inovaram ao privilegiar situações corriqueiras e engraçadas vividas ou testemunhadas pelos roteiristas como a matéria-prima principal do programa. Foi assim que nasceram clássicos, como o vendedor de sopas "nazista" e o "Festivus" (uma espécie de anti-Natal), para não falar dos próprios personagens, todos inspirados em conhecidos de David e Seinfeld.
Esta confusão intencional entre vida real e seriado acabou transformando uma piada em um mal-entendido. Deu-se quando Seinfeld, em um episódio, tenta emplacar uma sitcom na NBC com a "ajuda" de George, que explica: "é um programa sobre o nada". Longe disso.
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