Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
Escreve diariamente,
exceto aos sábados.
Governo tem de cuidar de uma agenda micro, diz sócio de gestora
Apesar da premência de o governo se concentrar no ajuste fiscal, é preciso que a equipe do presidente Temer se dedique também a uma agenda de reformas microeconômicas para melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos.
A avaliação é do empresário Antonio Quintella, sócio fundador da gestora de recursos de terceiros Canvas Capital e ex-presidente do banco Credit Suisse no Brasil e nos Estados Unidos.
"É compreensível que o governo esteja focado nas principais questões macroeconômicas", diz. "Mas uma hora, e não pode demorar muito, precisaremos tornar o ambiente de negócios menos hostil, e um conjunto de reformas microeconômicas precisará vir à tona."
A seguir, os principais trechos da entrevista à coluna.
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Folha - Além do ajuste, como vê a atuação do novo governo?
Antonio Quintela - O governo tem sido muito claro quanto à necessidade e à urgência de encaminhar as suas prioridades: controle do gasto público e reforma da Previdência. Por outro lado, me preocupo porque o ambiente de negócios é muito difícil, mais hostil que em países comparáveis ao Brasil. Não se sabe bem quais as prioridades do governo para melhorar as condições para se fazer negócio. Há comentários esporádicos da necessidade de atrair capital privado e estrangeiro, sem que isso tenha sido articulado com uma agenda microeconômica. Seria importante para retomar a confiança e aumentar investimentos que reformas fossem acompanhadas de outras tantas para facilitar negócios.
O que destacar nessa agenda?
O conjunto de medidas traria um enorme ganho, aceleraria o restabelecimento da confiança e incentivaria investimentos privados. Tem questões trabalhistas, tributárias, relacionadas às agências regulatórias, à dificuldade dos processos de licença ambiental, o ambiente ainda muito burocrático...
O que exatamente?
O Brasil continua em posições péssimas em rankings de ambiente de negócios, segundo o Banco Mundial. Um exemplo é abertura e fechamento de empresas.
O alto endividamento retarda a retomada da economia?
Nunca o país entrou em crise com empresas e pessoas tão endividadas. Não existia empréstimo consignado, os financiamentos imobiliários, de veículos, de crédito ao consumidor e às empresas eram pequenos. Espero que não ocorra, mas temo que a velocidade da retomada seja aquém da que vimos antes.
O investidor está voltando?
O estrangeiro, lentamente e com muita cautela. Tem a questão das reformas. Há urgência -o presidente e a equipe econômica têm sido enfáticos nesse ponto. Mas isso também condiciona as expectativas, de forma geral.
Empresários estão otimistas com o governo?
Estou mais animado. Observo pelo comportamento dos preços dos ativos financeiros, como a Bolsa, que a comunicação do governo está sendo bem-sucedida. Mas o governo vêm dando sinais de cautela.
Em que sentido?
Ele vem alertando sobre a situação fiscal e a evolução da dívida do Brasil. Sem os ajustes macro, em particular a PEC limitando a evolução do gasto público e a reforma da Previdência, a dívida pública vai entrar numa trajetória insustentável. Isso poderá resultar em mais inflação e ou na incapacidade de servir a dívida. A situação é emergencial e bastante dramática. O governo vai conseguir convencer a sociedade e o Congresso da necessidade desses drásticos ajustes? Se não conseguir, a situação pode, deve piorar muito.
RAIO-X
Antonio Quintella
Carto atual: Sócio fundador da Canvas Capital, que tem R$ 3,5 bilhões sob gestão, e o Credit Suisse como sócio minoritário
Carreira: Presidente do Credit Suisse nas Américas (EUA, Canadá, México e Brasil).
Formação: Economista pela PUC do Rio de Janeiro, com MBA pela London Business School
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Dose reduzida
A arrecadação de ICMS (sobre circulação de mercadorias e serviços) de produtos farmacêuticos no Estado de São Paulo cresceu 9,84% no primeiro semestre deste ano, para R$ 1,6 bilhão.
O aumento se deu apesar de o imposto cobrado sobre medicamentos genéricos ter caído de 18% para 12%, em fevereiro. O governo calcula que os preços dos fármacos baixaram até 6%.
"Os Estados tendem a resistir a cortes nas alíquotas, mas as vendas ajudaram a compensar a redução do imposto", diz Nelson Mussolini, do Sindusfarma (do setor).
Entre janeiro e junho, a indústria farmacêutica faturou R$ 6,74 bilhões (já descontada a inflação), o que representou aumento de 12,6% sobre igual período de 2015.
O executivo projeta elevação de 4,6% na arrecadação de ICMS até o fim deste ano, um valor de R$ 3,14 bilhões.
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Dinheiro no lixo
O tratamento de resíduos industriais no Brasil representa um mercado potencial de R$ 1,67 bilhão ao ano, por pelo menos uma década, aponta a Abetre, entidade do setor, em estudo feito pela consultoria Tendências.
O estoque de passivos ambientais calculado é de 58 milhões de toneladas.
Hoje, a recuperação dos resíduos movimenta, em média, R$ 400 milhões anuais, afirma o presidente da associação, Carlos Fernandes.
"Com a retração econômica, as empresas colocaram o tema em segundo plano."
A queda do orçamento público desacelerou os investimentos para eliminar lixões e aterros sanitários, o que contribui à paralisia do setor, diz.
O mercado mais aquecido hoje é o de tratamento de efluentes, impulsionado pela crise hídrica. "Há fundos interessados em investir no setor. O que falta é demanda."
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Tiago Recchia/Editoria de Arte/Folhapress | ||
Charge Mercado Aberto de 19.set.2016 |
com FELIPE GUTIERREZ, DOUGLAS GAVRAS e TAÍS HIRATA
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