Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
'Pelo menos não vi ninguém com blackface', diz convidada em Baile da Vogue
"Eu, como mulher e negra, acho que a gente tem que tomar cuidado. Não quero apontar dedo, porque é Carnaval, mas tudo está caindo muito para o estereótipo", dizia a apresentadora Pathy Dejesus nesta quinta (28) no baile de Carnaval da revista "Vogue", que neste ano adotou o tema "Pop África".
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"É um momento delicado. Ao mesmo tempo que a gente tem um baile sobre a África dentro do [hotel] Unique, eu vou sair aqui fora e alguém pode me chamar de macaca", seguia ela.
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A festa teve duas mulheres negras como "rainhas" (a atriz Taís Araújo e a jornalista Glória Maria). E também, como esperado, muita conversa sobre racismo.
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A consulesa da França em São Paulo, Alexandra Loras, adotou como passatempo no evento contar os "poucos negros" que estavam lá como convidados, como ela. E revelou uma ideia que teve com a amiga Paola de Orleans e Bragança, tataraneta da princesa Isabel.
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"Ela queria que eu viesse como escrava dela. É uma brincadeira, mas também é uma forma de lembrar um passado feio, trazer luz a uma coisa que foi horrorosa. Precisamos nunca esquecer. O Brasil é um dos países que mais tiveram escravos no mundo", afirmava. "Acho um passo enorme a 'Vogue' ter trazido esse tema. As pessoas estão homenageando com bom gosto, os afros estão elegantes e as referências à Africa também. Pelo menos não vi ninguém com 'blackface' [rosto pintado de preto]".
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No salão em clima de savana, decorado com imagens de girafas e elefantes, o turbante era tendência. A atriz Cris Vianna, com um adereço que trouxe de Angola, não tinha o que criticar. "Acho o tema supergenial. É uma festa, uma brincadeira de Carnaval."
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"Para mim, é homenagem. Não é apropriação cultural", dizia a cantora Luiza Possi, que usava um turbante também. "Senão ninguém mais faria luzes no cabelo, né?", completou ela, que, de vestido branco, sentia-se "uma noiva africana".
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Parte dos recepcionistas, na maioria negros, também usava o enfeite na cabeça. A apresentadora Adriane Galisteu foi outra que aderiu ao acessório. Já a atriz Paloma Bernardi, que tem cabelos cacheados, colocou um aplique de black power. "Admiro esses blacks, essa atitude, e quis fazer uma homenagem", dizia.
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No palco, Glória Maria (que se definiu como rainha "totalmente fora da casinha" e "guerreira"), pedia: "Num ano tão chato, de tanta coisa feia, de tanta intolerância, o mínimo que a gente pode fazer é, ó, 'beijinho no ombro' para quem é racista".
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