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O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.
O comício do dia 13
Janio de Freitas escreveu há duas semanas contra as desmemórias ou as torções de memória sobre o golpe de 64. Mais precisamente, alertou que "uma tal 'guinada de Jango com o comício do dia 13' deforma os fatos históricos". E que na realidade "o comício foi um ato a mais no processo", nada além.
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Mas a desmemória sobre o comício e o golpe só faz crescer, às vésperas dos 50 anos. Na verdade, a suposta guinada de João Goulart é enfatizada desde o próprio golpe, por uma geração de jornalistas. Uma controvérsia que corre pelas redes sociais ajudou a esclarecer um pouco as coisas.
Trouxe à tona um livro de 1964, "Os Idos de Março e a Queda em Abril", que Otto Lara Resende, para começar, apresenta dizendo que a Revolução, tratada assim no enunciado, "teve seu primeiro ato montado por Jango-Hamlet no comício do dia 13". Anuncia "uma grande e fascinante reportagem".
Escrevem então outros jornalistas, como Antonio Callado: "Dia 13, Jango-Hamlet saiu para o comício... E diante do fantasma mandou brasa... Suando em bicas, o colarinho aberto, o ralo cabelo em desalinho, deu provas de valentia encampando as refinarias particulares. Além disso, assinou a reforma agrária".
Mais à frente, defendeu: "O triste, no episódio latrino-americano da deposição de Jango, é que realmente não se pode desejar que as Forças Armadas não o traíssem. A expurgante situação militarista que se instalou no poder não alegra a alma de ninguém, mas como é que se ia continuar com Jango?".
Também Carlos Castello Branco escreve no livro-reportagem: "Como clímax da ofensiva desencadeada na sexta-feira, dia 13 de março, o episódio da Marinha [a desastrosa decisão de prestigiar uma revolta de marinheiros] não deixou dúvida de que o sr. João Goulart havia quebrado as regras do jogo".
Mais à frente, explicando as primeiras cassações: "O legalismo das Forças Armadas adquiriu novas dimensões, graças às quais a intervenção militar perdeu a característica dos golpes habituais para se transformar numa ação revolucionária, na medida em que gerou direito e reformou a Constituição".
E Alberto Dines: "Nesses momentos compreendíamos mais profundamente aquilo que nos ocorrera ao apreciar o comício: Jango permitira que na vida brasileira se insuflassem tais ingredientes que, para extirpá-los, seria necessário não mais o 'jeitinho'. Desta vez, teriam de ser empregadas a força e a violência".
Tem muito mais no livro, que foi encontrado no portal de sebos Estante Virtual. Quanto à controvérsia on-online, ela foi pontuado por textos postados nos dias 5, 11, 11, 12 e 14.
PS - A coluna semanal Toda Mídia sai do ar, para que possa me dedicar a outras tarefas no jornal.
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