Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Política sul-sul rende frutos
Os críticos hão de concordar -desta vez, a estratégia sul-sul do Itamaraty rendeu frutos.
O embaixador Roberto Azevêdo era, de longe, o candidato mais qualificado para liderar a OMC (Organização Mundial de Comércio). Mas isso, como se sabe, não garantia sua eleição.
Foi um trabalho de formiguinha feito ao longo de anos de galanteio das economias em desenvolvimento que garantiu sua vitória.
Conta muito, aí, o fato de o presidente Lula ter aberto 17 embaixadas na África - e outras três terem sido inauguradas no governo Dilma.
É impossível saber quem votou em quem, mas se houve mesmo uma vantagem de pelo menos 80 votos (no total de 159) para Azevêdo, certamente os anos de aproximação com países emergentes foram essenciais.
Franceses e ingleses fizeram oposição ativa a Azevêdo.
Como política é tudo, isso deveria entrar para o caderninho de Dilma na hora de avaliar a oferta da Dassault de venda dos caças Rafale para a FAB (Força Aérea Brasileira).
Nicolas Sarkozy já tinha irritado o presidente Lula ao bombardear a proposta de acordo , liderada pelo Brasil e pela Turquia, de troca de combustível nuclear do Irã, em 2010.
Os Estados Unidos, apesar de apoiarem o mexicano Herminio Blanco, deixaram claro que também viam com bons olhos a candidatura de Azevêdo. Inclusive, comunicaram isso antes ao governo brasileiro.
Blanco era visto como o candidato dos países ricos. Ferrenho defensor do livre comércio, foi ministro do Comércio no México e liderou a negociação do Nafta.
Já Azevêdo ficou chamuscado com as iniciativas protecionistas recentes do Brasil que foram questionadas na OMC, como o aumento da alíquota de importação de veículos.
Mas até aí, Pascal Lamy, presidente da OMC nos últimos dois mandatos, é francês. E a França está bem longe de ser uma defensora do livre comércio (menos ainda da eliminação dos subsídios agrícolas)
Nacionalidades à parte, os países emergentes vão querer cobrar a fatura da vitória de Azevêdo. Vai ser difícil, por exemplo, incluir na OMC a questão da guerra cambial, uma proposta defendida por Azevêdo quando era embaixador e naturalmente execrada pela China.
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