Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Aprendendo a protestar no Jardim Ângela
Esse pessoal que se enrolou na bandeira do Brasil e gritou ame-o ou deixe-o, anauê, bateu em gente com camiseta de partido ou fez outras cretinices do tipo deveria ir para o Jardim Ângela aprender a protestar.
Encontrei o gari José Rosa de Jesus, de 60 anos, no largo da Piraporinha, estrada do M'Boi Mirim, na quarta-feira (20) às 7h.
José é veterano de protestos. Está há sete anos no Movimento dos Trabalhadores sem Teto, fazendo manifestações regularmente.
Juntou-se a cerca de mil manifestantes que foram até o Terminal Jardim Ângela e depois andaram de volta até o largo 13 de maio.
As reivindicações no Jardim Ângela, uma das regiões mais violentas da cidade, eram bastante realistas e urgentes: duplicação da estrada M'Boi Mirim, terminal de metrô no Jardim Ângela, retomada de linhas de ônibus, e, claro, a redução da tarifa. Mas os manifestantes também pediam moradia, médico para o posto de saúde e redução da idade para tirar carteirinha de idoso para 60 anos.
O trânsito incomodou? "Imagine, a avenida é sempre parada, com protesto ou sem", disse um morador.
Seu José disse que quer ajudar "esses jovens" que agora passaram a protestar.
"Nos nossos protestos, quem faz alguma violência é retirado e punido. Não tem essa. Tem que respeitar os policiais e o resto do pessoal."
Esses neófitos de protesto, segundo ele, não sabem bem como liderar o movimento. "É preciso ser muito organizado, para não sair do controle."
Claro, houve confusão no Jardim Ângela também. Alguns tentaram invadir a subprefeitura de M'Boi Mirim, mas foram logo contidos por outros integrantes da manifestação.
Depois, integrantes mais exaltados invadiram o Terminal do Jardim Ângela, mas foram expulsos por policiais e seus cassetetes.
Mas ninguém quebrou vitrine, deu paulada em manifestante, ou pediu a volta da ditadura.
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