Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
A fome dos Maasai
Vilarejo de Mkuru, norte da Tanzânia.
Tajiri Asais tem onze anos, mas parece ter seis. Ele pesa 21 quilos e mede 1,26 metro. O peso e tamanho médio de um menino dessa idade são 34 quilos e 1,41 centímetros.
Todos os dias, Tajiri anda uma hora para chegar até a escola. De café da manhã, ele toma só um chá preto, sem nada. As aulas vão das 07h30 às 14h30 --e ele não come nada, pois a escola não tem dinheiro para dar merenda, nem um mingau sequer.
Ele chega em casa às 15h30 e come um ugali, um mingau de milho com água, sem proteína. Nos dias de sorte, tem também feijão.
Tajiri é da tribo Maasai e mora no norte da Tanzânia.
Os Maasai são duramente atingidos pela mudança climática. Com a seca prolongada, não conseguem mais se sustentar como pastores seminômades, como fizeram por séculos.
Começaram a plantar milho também, mas com resultados ainda muito decepcionantes.
Antes, os Maasai dedicavam-se somente a criar bodes, cabras e gado bovino. Alimentavam-se do leite e sangue dos bovinos, e, em dias de festa, matavam um bode.
Com a seca, há cada vez menos gado, e o que sobrevive dá cada vez menos leite.
Homens e meninos, às vezes, andam por dias para achar pasto para o gado.
O Instituto Oikos, uma ONG italiana, trabalha com os Maasai da Tanzânia. Na escola do Mkuru, tentou de tudo. Ajudou os professores a fazer uma horta para que houvesse alguma merenda para os alunos. Mas a água não chegava, os professores compraram uma bomba de água que quebrou, eles não se dedicavam e a horta secou.
"De estômago vazio, eles não conseguem aprender nada", diz Silvia Ceppi, do Oikos.
Segundo o diretor da escola, as crianças dormem muito durante as aulas, porque estão famintas, e algumas desmaiam de fome.
O instituto fez um estudo com as crianças das etnias Maasai, Meru e Arusha, presentes na região. Os mais atingidos pela desnutrição são os meninos de 11 a 17 anos.
É uma tendência oposta à da Índia, onde as meninas é que são mais desnutridas. No sul da Ásia, meninas são "prejuízo" --os pais precisam pagar dote para casá-las.
Já entre os Maasai, as meninas ganham dinheiro quando se casam, então são melhor alimentadas para "conservar o patrimônio".
O Oikos montou um projeto para complementar a renda das mulheres --o Tanzania Maasai Women Arts. Em parceria com Istituto Europeo di Design, elas fazem versões modernas de suas tradicionais joias Maasai.
O projeto se iniciou em 2006 e ia muito bem, mas as vendas caíram bastante com a crise europeia.
A situação para o Oikos tampouco é fácil. O financiamento da União Europeia vem minguando.
A jornalista é bolsista do International Reporting Project da Johns Hopkins University
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade