Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Com Dilma, Brasil foge do "protagonismo" global
Uma das bandeiras da política externa brasileira é aumentar o poder dos países emergentes em instituições multilaterais como FMI e ONU e garantir para nações como o Brasil um lugar à mesa nas discussões das grandes questões internacionais.
Ou não é?
No governo Lula, era. Já no governo Dilma, o Brasil parece estar fugindo das grandes questões mundiais.
O Itamaraty comemorou quando o Brasil foi convidado, a partir da sugestão russa, para participar da reunião de Montreux para discutir a crise Síria. O encontro trata de um dos maiores problemas da atualidade, a guerra civil síria, que já matou pelo menos 130 mil pessoas. Ser convidado é sinal de prestígio.
E eis que a presidente Dilma resolve mandar para a reunião o número dois do Ministério, o secretário-geral Eduardo dos Santos, para que o chanceler Luiz Alberto Figueiredo pudesse preparar a passagem da presidente por Davos - conforme noticiou Jamil Chade.
A reação de outros governos foi de perplexidade, como não poderia deixar de ser.
O Brasil vem fazendo muita pressão para ser incluído nas grandes negociações. Posicionou-se como mediador quando propôs, juntamente com a Turquia, o acordo de troca de combustível nuclear do Irã, em 2010.
Como é que um país faz lobby por um assento permanente em um Conselho de Segurança da ONU reformado, e despreza uma reunião relevante como a de Montreux?
A história fica pior. Durante a 2ª Conferência Internacional de Alto Nível para Contribuições Humanitárias à Síria, realizada no Kuait, no dia 15 de janeiro, o Brasil se comprometeu a doar apenas US$ 300 mil para ajuda humanitária aos sírios, segundo relatou a ONG Conectas Direitos Humanos. O valor é o menor entre todos os aportes prometidos por todos os países que estiveram no Kuait.
"O México prometeu doar dez vezes mais que o Brasil nesta conferência no Kuait. Para quem quer ser levado a sério nas grandes questões internacionais é muito pouco", disse Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas.
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