Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Estado Islâmico: missão não cumprida
Na semana passada, o general Thomas D. Weidley, chefe de gabinete da operação dos EUA de combate ao Estado Islâmico, afirmou a jornalistas: "No Iraque e na Síria, o Daesh (como é chamado o EI em árabe) está perdendo e continua na defensiva."
Naquele mesmo dia, o Estado Islâmico retomou a cidade iraquiana de Ramadi, aproveitando-se de uma tempestade de areia que inviabilizou ataques aéreos americanos e de uma vexaminosa debandada do exército iraquiano.
Mais um pouco e Weidley reedita aquela cena clássica - e patética - do ex-presidente George W Bush em frente a uma faixa com os dizeres "Missão Cumprida", comemorando o "fim" das operações de combate no Iraque, em 1 de maio de 2003.
Após a ofensiva americana e iraquiana em Tikrit, cidade natal de Saddam Hussein, e a retomada de Kobani, na Síria, pelos curdos, o declínio do Estado Islâmico era dado como certo.
Observadores vaticinavam que os fundamentalistas não iriam manter seu domínio por muito mais tempo, porque perdiam terreno rapidamente. E a retomada de Mossul, cidade a oeste de Erbil que é a capital de facto do EI no Iraque, seria questão de poucos meses.
A queda de Ramadi foi um banho de água fria. E nesta quinta (21), o EI tomou Palmyra, a cidade histórica da Síria. Levando-se em conta o que os fundamentalistas islâmicos fizeram com as ruínas de Nimrod e com o museu de Mossul, as perspectivas em relação a Palmyra são sombrias.
Os milicianos do Estado Islâmico agora controlam quase metade da Síria.
O presidente Barack Obama disse nesta quinta a Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, que a queda de Ramadi foi apenas "um revés tático", mas que os EUA não estão "perdendo a guerra" contra o Estado Islâmico.
Mas uma entrevista de um alto funcionário do Departamento de Estado, que falou "em background", dá uma visão mais ajustada da realidade.
Basicamente, os soldados iraquianos renderam-se sem resistência depois da invasão dos milicianos do EI em Ramadi. Não foi tão desonroso como Mossul - lá, o exército iraquiano desertou em massa e deixou para trás sofisticados armamentos fornecidos pelos EUA, que hoje são usado pelo EI. Parece que em Ramadi eles se lembraram de levar parte das armas.
A queda de Ramadi mostra que a estratégia americana para comnbater o EI é falha. Com o veto de Obama a "boots on the ground", os americanos estão se valendo de ataques aéreos e treinando exército iraquiano. No caso dos peshmerga curdos no norte do país, a estratégia vingou. Mas na Sunitolândia do oeste do país, fracassa fragorosamente. O número de soldados americanos treinando iraquianos é insuficiente. E as forças iraquianas mostram-se completamente despreparadas.
Segundo o funcionário americano, em 96 horas, o Estado islâmico detonou 30 carros bomba em Ramadi. Dez deles tinham capacidade explosiva semelhante ao atentado de Oklahoma - cada um!
"Ninguém está dizendo que nós vamos conseguir superar esse revés imediatamente", disse o funcionário. Segundo ele, passaram-se apenas oito meses de um combate que vai levar pelo menos três anos. "Alguns dos prazos que foram apresentados anteriormente não eram realistas. Serão três anos."
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