Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.
Baile de máscaras
RIO DE JANEIRO - Convocação para a manifestação de hoje à noite: bermuda e camiseta branca, óculos muito escuros e bem grandes, bigodes ou barbas falsos e boné preto. Para a de sábado, 7 de setembro: todos com perucas, verde ou amarela, e os rostos pintados de azul.
Essas são as novas ordens dos conhecidos black blocs, preocupados com o calor do verão que se aproxima e cansados de panos no rosto e máscaras pouco confortáveis. Cada protesto passará a ter cores e vestimentas diferentes. Basta da ditadura do preto!
Os parágrafos acima são um exercício de retórica, uma criação ficcional para exemplificar o quão questionável e insólita é a determinação do Tribunal de Justiça do Rio que obriga os manifestantes a se identificarem às forças policiais.
Ainda poderia haver tempo para uma nova decisão judicial que trocaria a proibição do uso de máscaras por alguma outra...
Por que qualquer pessoa teria de apresentar documento apenas pelo fato de estar usando algum adereço?
Baseada em que lei a polícia pode exigir que um cidadão coloque as suas impressões digitais em plena rua e sem qualquer motivo?
Quem disse que o manifestante que saiu à rua por algum motivo quer que sua presença fique registrada?
É evidente que não é por aí que depredações e vandalismos serão evitados, e seus autores, identificados.
Serão mesmo as máscaras que impedem a identificação de quem depreda? Ou são as polícias que falham no modo de investigar e ao não agir com objetividade e eficiência?
As prisões de ontem foram, aparentemente, resultado de uma ação de inteligência, que ainda precisa ser analisada com cuidado, tanto em relação ao que foi feito quanto à forma.
De todo modo, parece ter mais sentido do que a proibição dos "bailes de máscaras" pelas ruas da cidade... E quando chegar o Carnaval?
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