Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.
Os pichadores da Fifa
RIO DE JANEIRO - "Fora Fifa! Chega de covardia. Queremos moradia", dizia a faixa de manifestantes que fecharam avenida da zona norte do Rio para protestar contra remoções. Eram famílias de área próxima do Maracanã que invadiram casas abandonadas pela prefeitura, que removeu seus moradores há mais de três anos, mas não termina a demolição. A Fifa ou a prefeitura deixará o Rio em escombros?
Moradores protestaram contra a falta de água por dias, semanas e até meses a fio. A Cedae, empresa de águas do Estado, não soluciona o problema, sua obrigação básica. Outros fizeram fogueiras para chamar a atenção para suas comunidades sem energia. A Light e a Ampla, concessionárias, buscam explicações, mas ultrapassaram os limites de falta de energia fixados pela Aneel.
Na turística Copacabana, carros têm de driblar os montes de lixo, ainda não incendiados, para estacionar em rua paralela à avenida Atlântica. Quando ainda era um nome às vezes manchado pela crítica, não por pichadores de estátuas, Carlos Drummond de Andrade escreveu, em "Elegia Carioca", que viver no Rio é "promissória sempre renovada". "O sol da praia paga nossas dívidas de classe média enquanto multidões penduradas nos trens elétricos desfilam interminavelmente na indistinção entre vida e morte, futebol e Carnaval".
Hoje, o carioca lê o grafiteiro que emula o poeta mineiro à sua maneira: "Fui crime, serei poesia", picharam a dezenas de metros da estátua que embeleza o calçadão.
A Fifa é culpada de muita coisa: exigências descabidas, estímulo a oligopólios, pouca transparência. Mas, em relação aos problemas do Rio, há vilões com culpas, se não maiores, antecedentes às dela.
"Fora Fifa" é um slogan de passeata que a própria entidade se encarregará de cumprir. Em julho, vai embora –mais rica, é verdade. E o Rio ficará com seus problemas.
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