É empresário e conselheiro da Natura. Escreve às sextas, a cada duas semanas.
Potencial transformador
Na busca pela retomada do desenvolvimento, o Brasil não pode prescindir da capacidade transformadora do empreendedorismo de alto impacto, aquele que gera efeitos econômicos e sociais consistentes por intermédio de dois fatores cruciais para a competitividade: a inovação e o dinamismo que imprime ao mercado.
Essa não é a realidade do país. Existe aqui um terreno fértil para a disseminação do empreendedorismo, mas falta ênfase em iniciativas com conteúdo tecnológico disruptivo, como revela o Global Entrepreneurship Monitor, projeto conduzido pela London Business School. Segundo o levantamento, um terço dos brasileiros entre 18 e 64 anos dedica-se ao próprio negócio, maior índice entre 68 países pesquisados.
Tais números criam a falsa ideia de que temos uma economia dinâmica e empreendedora. Infelizmente, estamos distantes disso.
Boa parte dos pequenos empresários adotou o caminho como via de escape ao desemprego ou à carência de perspectivas profissionais –ou seja, por necessidade, não por opção. São mais prestadores de serviço do que empreendedores. Estes se caracterizam pelo desejo de inovar e crescer continuamente.
Sem ações específicas, esse quadro não mudará. Para incentivar o empreendedorismo de fundo tecnológico, responsável por grandes transformações mesmo em economias destacadas pelo gigantismo de seus grupos empresariais, como EUA e Coreia do Sul, é necessário estreitar as conexões entre empresas e universidades. É o que ocorre nos EUA.
Lá pesquisadores e alunos são estimulados a levar ao mercado o resultado de seus estudos, criando um celeiro riquíssimo de start-ups, tal como tem ocorrido aqui em polos de incubação e aceleração de empresas emergentes, localizados em Porto Alegre, em Campinas e no Recife. No exterior, há exemplos inspiradores de reorientação econômica voltada ao empreendedorismo. Em Nova York, a parceria do setor público com a iniciativa privada permitiu a construção do novo campus da Universidade Cornell, onde centros de pesquisas conviverão com incubadoras de negócios.
Os recursos vieram da prefeitura, da universidade e, note-se, de contribuições privadas –Charles Feeney, empresário americano que fez fortuna com lojas duty free, doou US$ 350 milhões.
São projetos que podem se tornar o embrião de cadeias de produção e serviços, graças à escala gerada a partir da concentração geográfica.
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