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Acessibilidade: uma luta contra o capacitismo e contra o racismo

Teorias científicas sobre falta de capacidade intelectual de pessoas negras justificaram atrocidades

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Luciane Viegas Caetano e Ingrid Anelise

Integrantes da equipe de consultoras e do Conselho Executivo do projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista), realizado pelas organizações ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Conaq, Geledés – Instituto da Mulher Negra, UNEafro Brasil e Makira-Êta

No mês em que é celebrado o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, em 21 de setembro, é importante lembrar que as teorias científicas sobre a falta de capacidade intelectual das pessoas negras justificaram atrocidades. De modo que o racismo e o capacitismo sustentaram a escravização de pessoas africanas e ainda hoje compõem a trama que sustenta as opressões institucionais contra as pessoas negras e também contra as pessoas com deficiência.

Os conceitos de acessibilidade e inclusão social estão intrinsecamente vinculados. No senso comum, a acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso de espaços físicos. Entretanto, numa acepção mais ampla, a acessibilidade é condição e processo para transposição das barreiras e garantia da efetiva participação de pessoas nos vários âmbitos da vida social, destacadamente na educação.

Calçada esburacada na Av. Cel. Sezefredo Fagundes, próximo ao número 2.300, na zona norte da capital paulista - Rubens Cavallari/Folhapress

Historicamente, a acessibilidade foi pautada especificamente para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Contudo, a acessibilidade pode ser compreendida também como a forma de projetar para todos ("universal design"), não importando quais as características das pessoas.

No âmbito da educação, compreende-se a acessibilidade como parte do processo de ensino-aprendizagem orientado pela perspectiva do DUA (Desenho Universal de Aprendizagem), que é um conjunto de possibilidades que busca ampliar a aprendizagem de estudantes com ou sem deficiência.

A partir de pesquisadores e intelectuais como Chtena, Zerbato e Mendes, compreendemos que o DUA visa proporcionar uma maior variedade de opções para o ensino de todos, considerando a diversidade da sala de aula, valorizando como eles expressam seus conhecimentos e como estão envolvidos e motivados para aprender mais. Desta forma, é possível observarmos o DUA como promotor de acessibilidade, com vistas ao acesso, à permanência e à aprendizagem na escola de todas as pessoas, indistintamente.

Ainda nessa perspectiva, compreendemos que a acessibilidade deve considerar a especificidade de vários grupos --e aqui pautamos a população com deficiência e a população negra, que historicamente vêm sendo alijadas de diferentes formas do direito à educação e atravessadas pelo racismo, pelo capacitismo e também pelo entrecruzamento dessas duas formas de opressão.

Na luta contra opressões, a acessibilidade é também uma questão de direito que tem sido conquistado gradualmente ao longo da história social, sendo garantida por leis nacionais, como a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Da perspectiva que traçamos, compreendemos como mecanismos nos processos de acessibilidade também as leis voltadas para a população negra, como a Lei de Cotas para ingresso nas instituições federais de ensino, que visa transpor uma das barreiras que impedem o ingresso de pessoas negras em tais instituições, e a lei que estabelece o ensino da cultura afro na educação básica.

Esta última confronta conteúdos e a falta de representatividade de estudantes negras e negros, processos que também tornam as escolas inacessíveis para tal grupo, sobretudo para a garantia da permanência.

Tais leis indicam como as lutas pela garantia de direito do movimento negro e do movimento de pessoas com deficiência, apesar de parecerem desvinculadas, precisam ser unificadas. São tramas que sustentam entrecruzamentos que nos obrigam a refletir!

Por fim, mas não menos importante, precisamos gritar: "Vidas Negras importam".

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