É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
Agora ou nunca
A decisão do Comitê de Ética da Fifa pode provocar a saída definitiva de Marco Polo Del Nero da CBF. Isso pode acontecer num prazo curto. Com otimismo, entre sete e dez dias. Nesse caso, o novo presidente será Delfim Peixoto. "Eu o ouvi dizer numa reunião que apoia a criação da Liga Nacional", diz o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira.
Delfim Peixoto afirma não ter compromisso com a fundação da liga, mas admite ser favorável à ideia: "Acho a criação dela inevitável", afirma.
Não pense em apoiar Delfim por causa de uma ideia. Pode haver outras muito piores. Mas o vazio de poder da CBF torna o momento perfeito para os clubes irem ao ataque e tentarem quebrar a estrutura atual. Avançar e mudar a história do futebol no Brasil.
É agora ou nunca!
Ou os clubes se organizam a partir desta semana para tomar o poder e organizar o Campeonato Brasileiro ou nunca mais haverá um vácuo que ofereça tantas condições de fazer isso. "É o momento ideal", confirma o vice-presidente do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro.
Incrivelmente, os telefones dos principais dirigentes de clubes do Brasil não tocaram na sexta-feira, com nenhuma sugestão deste tipo. Não houve nenhuma articulação política. A licença de Marco Polo Del Nero produziu inércia.
Desde a eleição de Ricardo Teixeira, em 1989, as condições de os clubes assumirem o comando e criarem uma empresa que gerencie o Brasileirão como produto –em teoria, a liga– foi abortada pelo trabalho político. A CBF emprestou dinheiro a quem a apoiava, não ajudou quem estava na oposição e a penúria produzida pela má administração dos clubes causou uma enorme relação de dependência.
Não era tão diferente na Inglaterra de 1990, quando o empresário Greg Dyke convocou os cinco maiores clubes do país –Arsenal, Everton, Liverpool, Manchester United e Tottenham– para propor a ruptura. Só que, naquele tempo, a necessidade era a de romper... com a liga.
Quem organizava o Campeonato Inglês já era a Football League e sua visão amadora incomodava até a Football Association, a federação inglesa, a CBF inglesa, digamos.
A noção empresarial e o tratamento do novo Campeonato Inglês como o principal produto vendido pela empresa –a Premier League– mudou o eixo do futebol europeu. Em seis anos, os ingleses começaram a ter um torneio mais forte do que a Série A da Itália.
Até hoje é assim.
O Brasil tem hoje quinze clubes importantes articulados, os fundadores da Copa Sul-Minas-Rio. A lista inclui Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Flamengo e Fluminense. Faltam os quatro grandes de São Paulo.
Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo não precisam jogar os torneios regionais. Mas podem participar da ampliação do grupo de clubes, para transformar o Brasileirão.
Marco Polo Del Nero dificilmente voltará a ser o presidente da CBF.
Como aconteceu na Inglaterra, as condições políticas estão todas colocadas na mesa. Como lá, o novo torneio deve respeitar as regras de acesso e descenso, diferente do que houve na criação do Clube dos Treze, em 1987.
O Campeonato Brasileiro de 2015 termina hoje e deu sinais de vida. A média de público saltou de 14 mil para 17 mil, os palcos melhoraram, os gramados também e como consequência a qualidade dos jogos subiu. Mas precisa ser muito melhor. E a chance de fazer isso é o vácuo de poder na CBF.
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