É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
Precisamos reforçar a cultura de passar meses discutindo contratações
Ronny Santos/Folhapress | ||
Rogério Ceni gesticula durante empate do São Paulo contra o Defensa y Justicia no Morumbi |
O São Paulo junta os cacos da eliminação da Copa Sul-Americana no palco de sua melhor atuação em 2017: o Mineirão. Das 23 partidas em Belo Horizonte contra o Cruzeiro, o tricolor venceu 12. Seria tudo perfeito, não fosse o empate contra o Defensa y Justicia. Indefensável!
A eliminação aponta o dedo para Rogério Ceni, mas reforça a crise institucional dos últimos cinco anos no Morumbi. A sequência de equívocos desde o terceiro mandato de Juvenal Juvêncio resulta num elenco inferior ao que poderia fazer Rogério decolar como treinador.
Agrava-se o fato de tomar decisões discutíveis, como escalar Lucão e Neilton.
Leva tempo para um treinador ser unânime. Rogério tem o exemplo de Cuca, a outra notícia deste domingo de inauguração do Brasileiro 2017. A demissão de Eduardo Baptista não foi justa, mas foi certa.
Isso ficará evidente na recepção do Allianz Parque ao técnico campeão de 2016, aos gritos: "Olê, olê, olá, Cuca, Cuca!"
O retorno de Cuca não garante o bicampeonato nem a Copa Libertadores. Lembre-se de que o início no Atlético-MG foi com seis derrotas seguidas e no Palmeiras com quatro, incluindo um acachapante 4x1 para o Água Santa. Também parecia indefensável.
O Palmeiras mudará de novo o sistema de marcação e o estilo de jogo. Em vez da posse de bola, a definição das jogadas será rápida. Não é simples a transformação. Desta vez, está a favor o fato de três quartos do elenco saberem exatamente o que Cuca deseja.
Além do clássico Flamengo x Atlético-MG, no sábado (13), a crise do São Paulo e a estreia do último campeão são os dois destaques da primeira rodada do Brasileiro. É o grande campeonato do país com potencial para ser o principal torneio do continente, de ter relevância no noticiário do planeta.
Hoje, só é relevante para os empresários que vêm buscar os jogadores, muitos criticados aqui e úteis no exterior.
O Brasileiro precisa ser muito mais do que isto. Na terça-feira (8), o diretor de competições da CBF, Manuel Flores, afirmou ter pressa para realizar no Brasil tudo o que se vê nos principais torneios do mundo.
Organização, qualidade dos gramados, o cenário perfeito para exportar a imagem de um campeonato brilhante. Ficará faltando diminuir o êxodo e reforçar a cultura de um país que passa meses discutindo qual vai ser a próxima contratação, sem debater o jogo, do ponto de vista técnico e tático.
"Eles tiveram 25 anos e vamos ter nosso tempo", disse Manuel Flores sobre a maturação das ligas da Europa e o sonho de ser igual. Lá, rega-se a planta todos os dias. A água tem de ser na medida certa. E é.
Aqui, o campeonato é colocado na TV e pronto. Por isso, há apenas 15 mil pessoas de público médio.
O Brasileiro começa e é um grande campeonato. Você não sabe quem vai ser o campeão. O Palmeiras não chegava acima de nono lugar havia sete anos. Foi campeão no ano passado.
Na Europa, o nível técnico abunda, mas a Juventus será hexa na Itália, o Bayern é penta na Alemanha, o Barcelona pode ser tri na Espanha, o PSG foi tetra na França.
O equilíbrio não pode ser tudo. Mas é um atributo inestimável para fazer o Brasileiro ser mais do que é.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade