Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
A teimosia de Dilma
A inflação bateu em 6,5% no acumulado de 12 meses até maio, teto da meta do Banco Central (BC). O rombo nas trocas do Brasil com o exterior chegou a R$ 70 bilhões. O crescimento foi de anêmico 0,6% no primeiro trimestre. E a popularidade de Dilma caiu 8 pontos - a primeira queda em dois anos de mandato.
Mesmo assim, o governo não está convencido da necessidade de apertar os cintos e gastar menos.
Com um corte de gastos, o setor público esfriaria o consumo, reduzindo a pressão por reajustes de preços. Isso ajudaria o BC na tarefa de controlar a inflação e evitaria uma alta excessiva dos juros. Também aumentaria a confiança dos investidores no Brasil.
A própria presidente, no entanto, fez questão de deixar claro sua posição hoje de manhã em evento no Rio. Dilma disse que é "responsável na política fiscal" e que a "inflação está sob controle". Ela frisou ainda que não vai aceitar "terrorismo" contra o Brasil.
É uma questão de convicções. Na visão da equipe econômica, os gastos públicos aumentaram por conta das desonerações para o setor produtivo, que são necessárias para reanimar a economia - a chamada "política fiscal anticíclica".
Em conversas reservadas, Guido Mantega tem dito que não vai repetir a receita da Europa. "Não vou fazer o que critiquei no G-20", disse o ministro, recentemente, a alguns interlocutores. Nas reuniões do G-20, que reúne as principais economias do planeta, Mantega deu declarações públicas recriminado os países europeus, que estariam atrasando a recuperação da economia global ao insistir em cortar gastos.
O problema é que a inflação - ao contrário do que diz o governo - voltou a ser um problema na vida dos brasileiros. A maior prova disso são os protestos que sacodem o País por conta dos reajustes das passagens de ônibus. A desvalorização do real, provocada por um movimento global de fortalecimento do dólar, coloca mais lenha nessa fogueira.
Com a China desacelerando, o Brasil não conta mais com aumentos expressivos dos preços das commodities, que traziam rios de dólares ao país e permitiam uma farra de gastos do governo e dos consumidores. E, se os Estados Unidos realmente se recuperarem, o capital vai voltar para o seu porto seguro.
Por enquanto, o governo tenta resolver o problema com baldes de água fria: desfaz os controles de capitais, para permitir a entrada do tão famigerado capital especulativo, e sobe a taxa de juros. Mas é provável que, sem um aperto nos gastos, o país volte a ser assombrado por seus mais conhecidos fantasmas: desvalorização da moeda e rombo nas contas externas.
Por convicção e teimosia, só a presidente e sua equipe parecem não ter enxergado isso.
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