Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Dilma dobra a aposta
As declarações da presidente Dilma Rousseff para um grupo de jornalistas na noite da última terça-feira foram reveladoras do rumo que pretende dar para a economia num eventual segundo mandato. Para os economistas, agora não resta mais dúvida: ela vai dobrar a aposta no modelo desenvolvimentista que vem adotando.
Dilma está convicta de que intervenções pontuais para controlar preços estratégicos e conter a inflação são o rumo mais correto. Para ela, não há necessidade de um "tarifaço" para compensar os preços represados e a economia brasileira vai "bombar" no ano que vem.
O que mais impressiona é sua opinião sobre a política do governo de segurar o preço da gasolina. "Não existe lei divina que determine que a gasolina brasileira deve flutuar de acordo com o mercado internacional. O preço do petróleo no Brasil não está ligado ao preço internacional e não tem que estar", disse Dilma.
O primeiro equívoco desse raciocínio é que o Brasil ainda não é autossuficiente em petróleo - ao contrário do que o governo Lula chegou a alardear. A importação de gasolina saiu de zero em 2009 para pouco mais de 10% do consumo doméstico. A Petrobras compra essa gasolina mais cara lá fora e vende mais barata aqui dentro.
Pela lógica da presidente, o problema da Petrobras não é o controle do preço da gasolina, mas a falta de produção de petróleo. Quando a estatal produzir mais, o que vai acontecer eventualmente, ainda mais com o
pré-sal, os problemas estariam resolvidos.
Não é bem assim. A gasolina é um insumo estratégico e o governo realmente não pode permitir que os choques externos, provocados por guerras, atentados terroristas e afins, sejam repassados diretamente ao mercado doméstico. Mas isso não significa que se pode ignorar a tendência internacional.
Hoje a gasolina é vendida no Brasil com base num barril de petróleo a cerca de US$ 60, enquanto lá fora a cotação está em US$ 100, informa o Centro Brasileiro de Infraestrutura. Uma diferença dessa magnitude é mais do que suficiente para distorcer os preços internos, estimulando o consumo de gasolina além do razoável e destruindo o setor de etanol.
A lógica de Dilma é que a Petrobras tem que subsidiar a gasolina no Brasil para não prejudicar os brasileiros. É o mesmo raciocínio do coronel Hugo Chávez, da Venezuela, e de seu sucessor Nicolas Maduro. E a experiência venezuelana não é muito animadora...
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