Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Não queremos mais ser o país do jeitinho
Os estrangeiros já estavam até reparando. "Nem parece que vocês são a sede da Copa do mundo", diziam nos bares da Vila Madalena, bairro boêmio de São Paulo. E nós mesmos nos perguntávamos: por que estamos tão insatisfeitos?
Mas ontem a apatia acabou e o país se vestiu de verde-amarelo. Houve protestos, mas o amor pelo futebol falou mais alto e estávamos todos no estádio, nas ruas e na frente da TV, torcendo pelo Brasil.
A partida começou sofrida com um gol contra inacreditável. Ninguém merece isso –nem nós, nem os "meninos do Felipão", que não estão de salto alto e jogam com o coração. Demorou um pouco e fomos redimidos por um golaço do Neymar.
A coisa seguia mal parada com um empate meia boca até a interferência do juiz japonês, que marcou um pênalti inexistente. O Brasil virou o jogo e fechou com mais um gol incrível do Oscar. Sem dúvida, 3 a 1 é uma vitória respeitável, mas por que esse gosto amargo?
O que em outras épocas seria motivo de piada –"o juiz é nosso"– nos deixou envergonhados. Não queremos mais ser o país do jeitinho.
Não queremos mais ser o país onde as obras não ficam prontas nem em cima da hora, onde não dá para fazer um "selfie" no estádio, onde demora incríveis 5 horas do aeroporto ao hotel, onde há ameaça de racionamento de água e luz.
Por isso, vaiamos nossa presidente em campo e não nos animamos com os candidatos de oposição. É isso que os políticos, os estrangeiros e que até nós temos dificuldade para entender: demoramos tanto a nos empolgar com a Copa, porque amamos essa camisa "canarinho" e não queremos mais ser o país onde até o juiz "rouba".
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade