Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Cuidado, Levy!
Vai ser difícil de acreditar que o governo Dilma realmente mudou suas convicções na política econômica. Ainda é cedo e o futuro ministro da Fazenda merece um voto de confiança, mas os primeiros sinais não são muito animadores.
Uma semana após Joaquim Levy dizer que o governo precisa interromper os repasses para os bancos públicos, o Tesouro Nacional entregou mais R$ 30 bilhões para o BNDES. O banco já deve para a viúva a incrível quantia de R$ 486 bilhões!
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, foi a público para dizer que vai precisar de mais dinheiro do Tesouro em 2015. Ele garante que os repasses vão diminuir, mas o país já vem ouvindo isso há algum tempo.
Essas transferências, que tem pouco efeito sobre a combalida taxa de investimentos da economia, elevam a dívida pública bruta. Com a dívida crescendo, fica mais difícil restabelecer a confiança nas contas do governo e aumenta o risco de o país perder o grau de investimento.
Por paradoxal que pareça, empréstimos tão vultosos para o BNDES e para os demais bancos públicos afugentam investimentos ao invés de atrair.
Também nesta semana, o Banco Central pisou no acelerador e elevou a taxa de juros - pela segunda vez após as eleições - para 11,75%. Alguns analistas viram na medida um sinal da "guinada" de Dilma rumo a ortodoxia.
Mas já faz tempo que a presidente vem preferindo o que ela considera o mal menor: subir os juros para conter a inflação ao invés de apertar os cintos e gastar menos. Até aqui, portanto, nada de novo. A política econômica de Dilma por enquanto é mais do mesmo.
Levy tem demonstrado boas intenções e busca trabalhar com números reais, deixando o reino da fantasia em que vive o atual do governo. Além de anunciar metas fiscais razoáveis, ele também fez uma previsão realista de crescimento do PIB no ano que vem: 0,8%, ao invés dos 2% da atual equipe.
Mas para descascar os vários abacaxis que tem pela frente, ele vai precisar de muito mais do que projeções confiáveis. Vai ser necessário contrariar interesses e convencer o atual governo de que errou - e errou feio - nos últimos quatro anos. O repasse de recursos para o BNDES mostra que não será fácil. Cuidado, ministro!
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