Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Só as reformas podem salvar a economia. O resto é perfumaria
Os últimos dias foram intensos em boatos sobre os rumos da política econômica, especialmente a política fiscal. O vai-e-vem que se instalou nos jornais reflete a confusão dos corredores de Brasília, devido ao caótico processo decisório da presidente.
Assessores de Dilma falam em flexibilização da meta fiscal e em um corte menor dos gastos públicos em montante ainda indefinido. A decisão, no entanto, parece ter sido arrastada por mais umas semanas para postergar o inevitável desgaste com os investidores.
Especula-se, inclusive, sobre a criação de um "modelo de ajuste ao ciclo de crescimento econômico" - uma espécie de "banda fiscal", que tornaria possível descontar os efeitos da queda de arrecadação de impostos provocado pela recessão.
A ideia pode até fazer sentido, mas não funciona para quem não tem credibilidade. É logo percebida como mais uma desculpa para não cumprir meta nenhuma e maquiar os números.
O mercado simplesmente não acredita no governo. Faz tempo que a maior parte dos economistas já prevê deficit para as contas públicas neste ano, ignorando as promessas do ministro Nelson Barbosa (Fazenda) de atingir um superavit de 0,5% do PIB.
O agravamento da crise internacional também começa a ser ventilado como um motivo para mais políticas anticíclicas, estimulando o governo a economizar ainda menos e quem sabe até forçar o BC a cortar os juros.
Por enquanto, é só desejo dos economistas palacianos. O Tesouro não tem dinheiro, a inflação segue alta e o dólar não dá sinais de queda significativa. Nesta quinta-feira (11), voltou para R$ 3,9.
Já falei diversas vezes neste espaço que o governo Dilma 2 é uma triste reprise do governo Dilma 1, com aumento do crédito direcionado, criação de estímulo a setores selecionados, influência nas decisões de política monetária do Banco Central e agora mais flexibilização da meta fiscal.
A única boa notícia é a tentativa de reformar a Previdência. Vamos torcer para que as ameaças de impeachment, as proximidade das eleições municipais, as pressões do PT e das centrais sindicais não esvaziem essa promessa.
"Só reformas estruturais consistentes serão capazes de convencer o mercado. O resto é perfumaria", diz Zenia Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
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