renata lo prete
escreveu até março de 2001
Renata Lo Prete, jornalista, entrou na Folha em 1986, no caderno "Ilustrada". Foi editora-adjunta de "Mundo", editora de "Ciências" e, em 1998, assumiu o cargo de ombudsman, que ocupou por três anos. Foi ainda editoria da coluna Painel, publicada diariamente no caderno "Poder".
Dois leitores,um painel
Uma das reclamações ouvidas com maior frequência pela ombudsman, bem como por seus antecessores, é a do leitor que não consegue ver sua manifestação publicada no jornal.
Um deles, meu interlocutor assíduo e autor de cartas bem articuladas sobre temas que vão do general Fayad ao Ratinho, resumiu: "Fico indignado, escrevo o diabo, mas não encontro espaço na Folha''.
Espaço. É o primeiro problema. O "Painel do Leitor'' ocupa duas colunas na página 3, quase de cima a baixo, onde faz fronteira com o "Erramos''.
Embora seu tamanho oscile em função do número de correções da seção vizinha, uma comparação indica que a média de cartas publicadas no "Painel'' é semelhante à de outros grandes jornais brasileiros.
No caso da Folha, levantamento realizado pela ombudsman nas edições de 1º de janeiro a 15 de abril aponta a marca de 8,69 por dia _entre as cerca de 100 que chegam ao jornal.
A relação "candidato/vaga'', portanto, não é animadora para os missivistas.
O segundo e mais recorrente motivo de protesto diz respeito à divisão do espaço disponível.
Um leitor recorreu à régua para demonstrar sua tese: "Em 11 de fevereiro, dos 97 cm, 21% (20 cm) foram de fato destinados aos leitores; 79% foram ocupados com longas cartas do Gustavo Franco, do deputado federal Luciano Pizzatto e do ex-prefeito Salim Curiati''.
Em manifestações similares, a seção foi rebatizada como "Painel da Autoridade'' e "Painel dos Notáveis''.
"Quem sabe não é boa idéia fazer uma estatística de quantos mortais comuns, como eu, são contemplados'', sugeriu uma assinante.
Foi o que a ombudsman fez. No período mencionado acima, 80,7% das cartas publicadas vieram de "mortais comuns'', contra 19,2% de autoridades e pessoas conhecidas em geral. Do total, 11,7% eram respostas a reportagens.
Observada apenas a quinzena de abril, a participação dos anônimos recuou para 73%, e os VIPs saltaram para 27%. As respostas ao jornal representaram 15,4% das mensagens.
Os percentuais acima, que à primeira vista enfraquecem o argumento dos leitores, devem ser lidos com cuidado.
Eles refletem o número de cartas publicadas, um dado importante, mas não dão conta do tamanho das manifestações.
Quem acompanha o "Painel'' sabe que os anônimos geralmente são confinados a um limite de linhas recomendado, enquanto os VIPs se esparramam pela seção.
O levantamento dá pistas dessa diferença. Em dias livres de notáveis, o "Painel'' chegou a abrigar 14 cartas, 61% a mais do que a média. No outro extremo, há edições como a de 27 de março, em que o espaço foi inteiramente tomado por três longas respostas à Redação.
A Folha jamais terá como suprir a demanda dos leitores por um lugar no "Painel''. Com a disseminação da correspondência eletrônica, o volume de mensagens só fará crescer.
O jornal sempre poderá argumentar que o VIP também é leitor, mas dificilmente convencerá o anônimo.
A fórmula que vejo para reduzir a insatisfação é separar as cartas dos leitores, comuns ou não, daquelas que possam ser caracterizadas como direito de resposta. Estas seriam reunidas em outra seção.
Dessa maneira, o leitor veria seu espaço de participação ampliado, e não se sentiria frustrado por ter de competir com processos aos quais o jornal precisa dar visibilidade.
Enquanto isso não acontece, transmito ao leitor que vem buscando sem sucesso uma chance no "Painel'' as dicas de Hans John Mayer, 74, veterano que apenas neste ano já emplacou cinco cartas na seção.
"Escreva quando achar que tem uma idéia realmente boa'', diz. Ele conta que já recorreu a outras instâncias do jornal na tentativa de sensibilizar o responsável pelo "Painel''.
Esclarecendo de antemão que posso reivindicar a inclusão da carta, nunca exigi-la, coloco-me à disposição de quem quiser procurar essa via.
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