renata lo prete
escreveu até março de 2001
Renata Lo Prete, jornalista, entrou na Folha em 1986, no caderno "Ilustrada". Foi editora-adjunta de "Mundo", editora de "Ciências" e, em 1998, assumiu o cargo de ombudsman, que ocupou por três anos. Foi ainda editoria da coluna Painel, publicada diariamente no caderno "Poder".
Caiu por quê?
A manchete de terça-feira "Mercado reage a crescimento de Lula'' resultou em 25 protestos à ombudsman. Não é um recorde, mas poucas vezes um único assunto mobiliza tantos leitores.
Para eles, a Folha avançou o sinal ao atribuir a queda de 2,44% na Bolsa paulista ao empate técnico entre o candidato do PT e o presidente Fernando Henrique Cardoso, detectado pelo Datafolha.
Argumentam que as dificuldades da economia brasileira e a turbulência nos mercados são anteriores ao crescimento de Lula.
Lembram ainda que, na mesma segunda-feira dos 2,44%, a Bolsa russa despencou 10,2% e houve recuo nas principais praças da Ásia.
Além de enumerar fatores que enfraqueceriam a manchete, os leitores apontaram escassez de elementos a sustentá-la.
"Felicito a Folha por ter conseguido entrevistar o mercado'', ironizou um deles.
Ele se referia ao fato de que apenas três analistas foram citados na reportagem, um deles preferiu não ser identificado, e deste foi publicada uma declaração entre aspas.
''Sugestão: grafar Mercado Financeiro. Se for possível publicar a idade desse senhor, melhor'', completou o leitor.
Eleonora de Lucena, secretária de Redação, defende a manchete. "O movimento do mercado é fruto de um conjunto de fatores, que começam no Brasil e passam pela situação externa'', diz. ''Nesse quadro, o fato novo foi a mudança captada pela pesquisa, daí a opção feita pela Folha."
Ela rejeita a idéia de que faltou substância ao texto. ''Não se faz reportagem ouvindo três pessoas. Tínhamos segurança porque acompanhamos o mercado todos os dias. ''
A cobertura eleitoral é talvez o terreno mais pantanoso no relacionamento entre jornal e leitor. Não raro, as manifestações sobre o assunto vêm carregadas de engajamento.
Na semana que passou, por exemplo, fui procurada por um leitor interessado em me convencer de que a Folha foi injusta ao creditar a subida de Lula aos tropeços de FHC, e não aos acertos da campanha do PT.
Tamanho equívoco de interpretação do leitor só pode ser atribuído ao compromisso com a candidatura petista.
O que é direito dele. Só não deve esperar que a Folha faça esse papel. É errado, no entanto, concluir que os protestos contra a manchete são fruto exclusivo de petismo _linha de raciocínio à qual a Folha costuma se apegar quando confrontada com esse tipo de crítica.
Depois de muito ler, conversar e refletir, estou convencida de que o mercado reagiu, sim, à ascensão de Lula. Porque é de sua natureza sensível de cassino e porque, visivelmente, antes nem sequer analisava a hipótese de derrota de FHC.
O mesmo percurso me convenceu também de que a Folha avançou, sim, o sinal na edição de terça-feira.
Na capa, isolou o "efeito Lula'' da conjuntura internacional _o texto interno informa, no último parágrafo, que "o cenário externo ajudou a puxar as cotações para baixo''.
Dos três analistas citados, um descarta a tese da manchete. E o leitor tem razão em reclamar da frase voadora. Dar aspas de declarações em "off" é recurso para esquentar matérias que o bom jornalismo dispensa.
A Folha melhorou nas edições seguintes.
Ampliou o leque de repercussões e procurou trazer, em quadros e textos, elementos para a avaliação da vulnerabilidade da economia e do momento político.
Um leitor que percebeu o esforço indagou à ombudsman porque isso não foi feito já na edição de terça-feira.
Boa pergunta. Os jornalistas provavelmente dirão que não houve tempo. Mas essa resposta é insuficiente. Era relativamente simples manter o equilíbrio na campanha pró-forma que se anunciava. O teste é manter, agora, a isenção e o sangue frio.
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